O que é Open Transaction Network e como ela pode mudar o jogo

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A Open Transaction Network pode ser a nova infraestrutura fundamental para a Era Regenerativa. Imagem: Gerd Altmann/Pixabay.
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  • Uma Open Transaction Network (OTN), ou Rede de Transações Abertas, é a nova infraestrutura fundamental para a Era Regenerativa, apoiando a restauração, renovação e revitalização dos recursos naturais e promovendo o bem-estar econômico.
  • As OTNs prometem aumentar a transparência e melhorar as interações dentro de ecossistemas complexos que podem ajudar a combater as mudanças climáticas e as vulnerabilidades da cadeia de suprimentos.
  • As OTNs são participativas, contando com descentralização e mecanismos robustos de governança; a interoperabilidade é fundamental para seu papel e objetivos, enquanto tendências tecnológicas e simultâneas contrárias, como a inteligência artificial, aumentarão sua eficácia.

Para uma economia global próspera, transações suaves que incentivem a criação de valor e a transmissibilidade são essenciais. De maneira ideal, queremos uma economia que funcione em um sistema digital universal, facilitando o manuseio de transações em várias plataformas e partes interessadas, conhecida como interoperabilidade. Esta abordagem é fundamental para estimular a inovação, promover a concorrência e garantir o acesso aberto. Isso ajuda a evitar que uma das partes tenha muito poder ou controle sobre como as coisas funcionam no mercado.

Nos últimos 20 anos, a economia de plataformas concentrou poder entre algumas grandes empresas, dificultando a concorrência e aumentando a desigualdade econômica.

À medida que essas plataformas crescem, elas geralmente controlam as coisas de uma maneira que pode limitar compradores e vendedores. Esse controle se torna particularmente problemático quando os usuários – consumidores e fornecedores – que buscam mudar de plataforma descobrem que não podem transferir seus dados nem sua reputação conquistada a duras penas. A situação dificulta o livre “fluxo de valor” essencial para um mercado justo, sufocando a escolha e a inovação.

Um novo tipo de infraestrutura pública digital, chamada Open Transaction Network (OTN), é uma maneira pioneira de enfrentar o desafio crescente da interoperabilidade reduzida na economia. As OTNs são padronizadas, têm código aberto e são apoiadas pela comunidade. Elas permitem transações suaves entre indivíduos e organizações, independentemente das plataformas que usam, tornando o cenário digital mais inclusivo e acessível.

Na vanguarda dessa transformação está o Protocolo Beckn (ou “protocolo de rede”) – um bem público digital reconhecido globalmente que unifica a linguagem amigável de máquina, garantindo a interoperabilidade em nível de transação entre organizações dentro de uma OTN.

As OTNs podem, assim, facilitar uma mudança de paradigma na economia global, de acordo com Bruce Schneier, tecnólogo em segurança e professor de políticas públicas da Harvard Kennedy School.

“Ao promover um cenário competitivo e não monopolista, ao reduzir as barreiras à entrada, [as OTNs] podem democratizar o acesso tecnológico e estimular a colaboração generativa e a criatividade”, diz ele, enfatizando que isso pode tornar as plataformas tecnológicas mais equitativas e permitir a participação econômica inclusiva, abrindo caminho para novos mercados e modelos de negócios.

Open Transaction Networks são fundamentais para desbloquear todo o potencial da economia digital nos países em desenvolvimento. Imagem: Gerd Altmann/Pixabay.

Benefícios das Redes de Transação Aberta (OTNs)

  • Melhora a concorrência no mercado: as OTNs reduzem as barreiras à entrada e mitigam as tendências monopolistas, de modo que a inovação e a qualidade impulsionam a concorrência no mercado em relação ao controle da rede ou às restrições do consumidor.
  • Estimula a inovação: as OTNs, por serem abertas e interoperáveis, incentivam o desenvolvimento e a melhoria de serviços inovadores, levando a eficiência avançada, segurança e experiência do usuário.
  • Fortalece a colaboração: a plataforma de transação unificada permite que as empresas aproveitem os pontos fortes combinados e desenvolvam serviços abrangentes e de valor agregado, fortalecendo a economia digital.
  • Promove a equidade e a inclusão: as OTNs democratizam o acesso transacional, defendendo a equidade e a participação, o que beneficia indivíduos e empresas e introduz perspectivas diversas no mercado.
  • Cria novos mercados: a abertura das OTNs promove novos modelos de mercado e de negócios semelhantes à forma como a internet estimulou o crescimento do comércio eletrônico, desbloqueando novas opções transacionais e expandindo as escolhas e a inovação do consumidor.

“Muitos problemas complexos, seja de inclusão social ou econômica, a ação climática ou a escalada de novos mercados para meios de subsistência e soluções sustentáveis – por exemplo, escalar um ecossistema de carregamento eletrônico de veículos – lidam com custos exponenciais quando lidam numa escala populacional”, observa Sujith Nair, coautor do Protocolo Beckn.

“Em vez de cada um desses esforços tentar resolver sozinho uma infinidade de custos, como os custo de descoberta e realização, de transação e confiança, poderíamos elevar todos os esforços para um novo terreno comum”, ele continua. As OTNs que usam o protocolo Beckn são a infraestrutura compartilhada que distribui e reduz custos e riscos em todo o ecossistema.

As OTNs como intervenções sociais

Os países de alta renda estão se transformando – pela demografia, mudanças climáticas e esforços de sustentabilidade, e mudanças industriais influenciadas pela inteligência artificial (IA) e outras tecnologias. As OTNs, testadas em todo o mundo nos últimos dois anos, estão sendo consideradas uma importante intervenção política para estabelecer ecossistemas robustos de transações em setores críticos, como mobilidade urbana, transição energética e comércio hiperlocal, entre outros.

Elas podem ajudar o desenvolvimento socioeconômico em países de baixa ou média renda, aumentando o acesso a serviços públicos, estimulando o crescimento econômico e impulsionando as pequenas empresas a alcançar mercados mais amplos. Os criadores de políticas públicas nestas regiões estão considerando as OTNs para impulsionar novas intervenções sociais na educação e competências, agricultura, saúde e outros setores.

“No espaço de mobilidade na Europa, a maioria das integrações é baseada em conexões individuais entre operadores de transporte e provedores de mobilidade”, diz Jef Heyse, cofundador da Automicle, “Isso é demorado e limita a inovação, pois apenas as integrações com um claro potencial de negócios de curto prazo são estabelecidas”.

Heyse explica que as OTNs apoiarão os operadores de transporte público, que agora são obrigados pela legislação da União Europeia a disponibilizar dados e bilhetes em plataformas alternativas de passagens. Uma vez que as OTNs sejam mais amplamente conhecidas, outras soluções de mobilidade aproveitarão sua flexibilidade e eficiência de custos para integrar operadores de transporte e provedores de mobilidade.

 As OTNs apoiarão os operadores de transporte público. Imagem: Marc Olivier Jodoin/Unsplash.

“As medidas atuais que tomamos na preparação da Open Amsterdã Network para comércio hiperlocal e entrega hiperlocal não seriam possíveis [sem] uma OTN. Os empresários de Amsterdã e os entregadores de bicicletas de carga serão alguns dos primeiros na Europa a demonstrar as capacidades das OTNs”, diz Heyse.

Pilotos globais da OTN

O Brasil viu sua primeira OTN em Belém por meio da Missão Belém Aberta ou Rede Belém Aberta (RBA), com o objetivo de conectar produtores a mercados com um objetivo sustentável.

“A Open Transaction Network RBA está abrindo novos caminhos para a colaboração do setor privado, público e acadêmico aqui em Belém”, explica Marcelo Sá, fundador e CEO da Jambu Tecnologia.

“Juntamente com o Distrito de Inovação de Belém, [a rede] é o catalisador muito necessário para o progresso socioeconômico impulsionado pela tecnologia, começando com o desbloqueio de oportunidades de qualificação e emprego, e estou confiante de que esse esforço pode estabelecer as bases para mais intervenções sociais desse tipo em outras cidades do Brasil e da América Latina em geral”, diz Sá.

A Índia também possui OTNs em escala populacional por meio da Open Network for Digital Commerce (ONDC), um piloto lançado em abril de 2022 visando entrega de supermercado e comida em toda a Índia.

Ela é construída com base nos princípios fundamentais de interoperabilidade de transações, separação dos blocos de construção do comércio digital e participação do ecossistema, explica T. Koshy, diretor administrativo e CEO da ONDC.

“Esta iniciativa, no seu âmago, é um sólido multiplicador de forças para acelerar a transformação digital das [micro, pequenas e médias empresas] para os consumidores, ao mesmo tempo em que alarga o potencial de negócio para os operadores históricos e novos atores do mercado”, afirma. Outros também estão vendo o potencial e o impacto iniciais das OTNs.

“Redes de transações abertas, interoperáveis e inclusivas são fundamentais para desbloquear todo o potencial da economia digital nos países em desenvolvimento. A iniciativa OGa em Gâmbia é um exemplo pioneiro, abrindo caminho para outros seguirem na região e além dela”, acrescenta Joseph Jassey, diretor executivo interino da Fundação para a Economia Digital da África.

O ecossistema baseado na OTN redefine a economia de mercado, representando não apenas o avanço tecnológico, mas também uma profunda transformação na forma como o valor é criado, distribuído e consumido entre setores.

Artigo original (em inglês) publicado por Satwik Mishra, Neeraj Jain e Rajeesh Menon no Fórum Econômico Mundial–WEF.

Sobre os autores

Satwik Mishra é Diretor Executivo Interino do Centro de Tecnologia Confiável.
Neeraj Jain é Vice-Presidente de Expansão de Redes na ONDC.
Rajeesh Menon é Chefe de Expansão e Estratégia da Fundação para a Interoperabilidade na Economia Digital (FIDE).

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