A agricultura regenerativa na visão de três líderes globais do setor

Foto de uma mulher agachada ao ar livre no cultivo agrícola para ilustrar a agricultura regenerativa na visão de três líderes globais do setor.
Agricultores são administradores de nossos recursos naturais e devem vir em primeiro lugar para garantir transições equitativas e resilientes. Foto: Zoe Schaeffer/Unsplash.

Os sistemas alimentares estão ligados a muitos desafios globais, como a fome e o desmatamento, e por ser o segundo maior emissor global de gases de efeito estufa (GEE), atrás apenas do setor de energia. E se invertermos esse papel e percebermos o verdadeiro potencial da agricultura para tornar os sistemas alimentares net zero, positivos para a natureza e que nutrem a todos? Siga lendo para entender a agricultura regenerativa na visão de três líderes globais do setor.

Neste sentido, as medidas da agricultura regenerativa e inteligente são projetadas para colocar os agricultores no centro, assim como para melhorar o rendimento das colheitas, transformar terras agrícolas e pastagens em sumidouros de carbono, reverter a perda de florestas, otimizar o uso de fertilizantes à base de nitrogênio e repensar as cadeias de suprimento para serem mais sustentáveis e produzirem menos desperdício.

Por meio de soluções climáticas naturais (NCS), os sistemas alimentares podem contribuir com até 37% da mitigação climática necessária para atingir as metas de 2030. Porém, menos de 2% do financiamento climático é direcionado para soluções agroalimentares.

Na União Europeia (UE), um novo relatório do Fórum sobre estratégias climáticas que priorizam o agricultor constatou que as emissões anuais de GEE poderiam reduzir em 6% se apenas um quinto dos agricultores da região recebesse suporte na transição para o net zero, para reforçar a eficiência da saúde do solo, com rendimentos entre $2–9 bilhões de euros.

Países, empresas e agricultores estão adotando estratégias de grandes apostas para liberar esse potencial. Mesmo assim, aumentar tais esforços requer parcerias muito mais ousadas e inteligentes, que liberem investimentos de capital, adotem liderança corajosa e soluções de tecnologia adequadas para a tarefa em questão.

A seguir, três líderes globais do setor compartilham ideias sobre como estratégias ousadas e parcerias inclusivas podem liberar capital, tecnologia e conhecimento para resolver esses problemas juntos.

“A eliminação de emissões em fazendas é essencial para que tenhamos capacidade de atingir nossa meta net zero”. Jim Andrew, vice-presidente executivo e diretor de sustentabilidade da PepsiCo.

Precisamos quebrar o molde e estabelecer parcerias criativas e de longo prazo com fornecedores, cooperação pré-competitiva com outras empresas, alianças com governos e organizações sem fins lucrativos no sentido de mudar a velocidade e a escala para que possamos implantar uma agricultura inteligente para o clima.

Ao longo dos anos, aprendemos que três coisas precisam acontecer para que os agricultores adotem práticas de agricultura regenerativa. Programas financeiros precisam ser criados para ajudar a reduzir os riscos da transição de um agricultor. A PepsiCo ajuda com programas de compartilhamento de custos e cria novos mercados de carbono e programas de empréstimos para os agricultores por meio de parcerias estratégicas.

No entanto, o dinheiro por si só não é suficiente. Então, a segunda coisa que precisamos fornecer é assistência técnica, às vezes incluir conselhos agronômicos adaptados aos campos e culturas individuais de cada agricultor.

Por último, os agricultores precisam fazer parte de uma comunidade de colegas que estão tentando coisas semelhantes e poderem compartilhar aprendizados. Nenhuma organização pode sozinha atender a todas essas necessidades. Parceria e colaboração são necessárias para fornecer o pacote holístico de apoio que necessitam. Mas quando isso acontecer, acreditamos que os agricultores serão mais resilientes, as colheitas produzirão mais e nosso planeta colherá os benefícios.

Na PepsiCo, fornecemos mais de 25 safras em 30 países, apoiamos mais de 100 mil empregos agrícolas e cerca de um terço de nossas emissões anuais vêm de nossa cadeia de suprimentos do setor. Isso significa que a eliminação de emissões em fazendas é essencial para atingirmos nossa meta net zero.

Na medida em que a PepsiCo continua a agir para atingir nossa meta climática e reduzir as emissões nas fazendas, uma coisa sempre vem à tona: formar parcerias sólidas e intersetoriais é essencial. Precisamos de pessoas para trabalhar com pessoas com quem nunca trabalharam antes. Independentemente da indústria, a descarbonização é incrivelmente complexa, e colaborações criativas nos permitirão juntos atingir a meta mundial de 1,5°C.

Foto: Sasin Tipchai/Pixabay.

“Apenas trabalhando juntos podemos construir o sistema alimentar do futuro.” Anke Kwast, Vice-presidente de Mapa do Clima e Natureza da Yara International.

Sabemos que os atuais sistemas de produção de alimentos enfrentam desafios fundamentais:

• Devemos produzir alimentos mais nutritivos e acessíveis para alimentar uma população mundial crescente.

• Devemos transformar a produção de alimentos para reduzir as emissões de GEE, construir solos mais saudáveis e apoiar a biodiversidade. E assim criar uma cadeia de valor mais sustentável, resiliente e justa.

• Devemos garantir que os produtores de alimentos sejam incentivados a cuidar de suas terras enquanto conseguem ter uma renda sustentável.

A agricultura regenerativa é uma abordagem sistemática para adotar as melhores práticas sustentáveis que impactam positivamente a natureza e o clima. Trata-se de produzir mais alimentos usando menos recursos do planeta.

Precisamos apoiar os agricultores para reduzir as emissões de GEE e proteger seus solos, ao mesmo tempo em que entregamos os rendimentos necessários e a qualidade das colheitas para alimentar o mundo.

Inovações revolucionárias para acelerar a agricultura regenerativa incluem soluções de agricultura digital, análises de saúde do solo, nitratos verdes e de baixo carbono e fertilizantes orgânicos.

Estamos totalmente comprometidos em fazer parcerias com agricultores, empresas de alimentos e legisladores para concretizar a visão de um futuro alimentar positivo para a natureza.

Por meio de nossas parcerias atuais (com a Carbon+ Coalition do Fórum Econômico Mundial, a plataforma OP2B do WBCSD, a plataforma SAI e o IMAGINE Food Collective) aprendemos que a implantar a agricultura regenerativa no terreno requer todas as mãos no trabalho. Os principais aprendizados incluem:

• Cada paisagem é única e precisa de uma abordagem específica do contexto.

• Cada agricultor deve medir e relatar o progresso em comparação com sua própria linha de base atual.

• Toda a cadeia de valor deve endossar a mudança de paradigma para a agricultura regenerativa, mas é importante construir passo a passo as soluções e inovações existentes.

Somente trabalhando juntos podemos construir o sistema alimentar do futuro. Só podemos ampliar a agricultura regenerativa para restaurar a natureza e reverter as mudanças climáticas com metas e ações baseadas na ciência.

Atualmente, a produção de alimentos é uma peça chave que contribui para [aumentar] o desmatamento, as mudanças climáticas, perda de biodiversidade, fome e obesidade, sem contar o desperdício de alimentos. Nosso sistema alimentar não é resistente às mudanças climáticas ou ao impacto das crises por conta dos resultados de práticas agrícolas convencionais e nocivas combinadas com a dependência excessiva de poucos tipos de cultivo.

Foto: Pauline E./Wikimedia Commons

“Precisamos urgentemente reabastecer e regenerar os recursos necessários para cultivar nossos alimentos.” Dorothy Shaver, Chefe Global de Sustentabilidade e Nutrição da Unilever.

Em torno de 52% dos solos agrícolas estão degradados, os alimentos são o principal consumidor de água e alguns especialistas dizem que temos menos de 30 anos de água [disponível para consumo]. Consequentemente, houve um declínio acentuado de agricultores nos últimos nove anos: de 44% para 26%, com base em dados da Organização Internacional do Trabalho.

É por isso que a Unilever tem se comprometido em investir na transição para a agricultura regenerativa. Isso significa cultivar de uma forma que melhore a saúde do solo, a biodiversidade, a eficiência hídrica, a resiliência climática e que diminua as emissões de GEE.

Por mais de 12 anos, trabalhamos com fornecedores e pequenos agricultores para cultivar alimentos de forma sustentável, seguindo o Código de Agricultura Sustentável. Agora, implementamos os Princípios de Agricultura Regenerativa, com um roteiro de 90 projetos até 2026.

Estão em andamento [algumas] parcerias: 1) com agricultores que trabalham com soja, para plantar culturas de cobertura que reduzam a erosão do solo; 2) produtores de arroz, para diminuir o uso de água e emissões de metano; 3) produtores de leite, para reduzir emissões de GEE. Esses três exemplos fazem parte das parcerias multissetoriais lideradas pela Unilever e iniciadas em 2021 e em 2022.

Temos mais para fazer. Devemos trabalhar de forma colaborativa para construir um sistema alimentar resiliente, produtivo, nutritivo e delicioso que beneficie as pessoas e o planeta.

Vamos avançar rapidamente na formação de parcerias para cultivar e produzir alimentos para as pessoas que melhorem a saúde de nossa terra e beneficiem os agricultores.

Artigo original (em inglês) publicado por Tania Strauss no Fórum Econômico Mundial–WEF.


Sobre a autora
Tania Strauss é Líder de Estratégia e Projetos Globais da WEF. Ela possui mestrado e cursos de pós-graduação por instituições como a Skidmore College, Columbia University School of International and Public Affairs, INSEAD e London Business School.

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