População mundial atinge 8 bilhões. No que isso implica?

Imagem da silhueta de pessoas na frente de duas mãos saindo do chão e com o mapa mundo desenhado nelas para ilustrar que a população mundial atinge 8 bilhões. No que isso implica? Foto: Gerd Altmann/Stokpik/Pixabay
Foto: Gerd Altmann/Stokpik/Pixabay

A população mundial acaba de bater um novo recorde: 8 bilhões. Como de costume, há debates acirrados sobre a chamada “capacidade de carga” que o planeta suporta – ou seja, o número total de pessoas que podem viver na Terra de forma sustentável. Os especialistas geralmente se dividem em dois campos: há os que defendem que precisamos reduzir drasticamente a população humana para evitar uma catástrofe ecológica. E há aqueles que acreditam na tecnologia para encontrar soluções inteligentes sem necessariamente ter que enfrentar o problema de frente.

Os cientistas já debatem essas questões demográficas pelo menos desde o século 18, quando o economista britânico Thomas Malthus publicou “Um Ensaio Sobre o Princípio da População”, sem dúvida o primeiro tratado global voltado para a relação entre crescimento populacional e escassez.

Algumas décadas depois, no entanto, a Revolução Industrial (que Malthus não conseguiu antecipar) introduziu o mundo em uma era de abundância, relegando as previsões sombrias que ele fez sobre a inevitabilidade da escassez à margem do debate científico.

O professor de Stanford Paul Ehrlich traz o assunto de volta em seu livro best-seller “The Population Bomb”, publicado no final dos anos 1960, em que ele defende uma ação imediata para limitar o crescimento populacional em um planeta finito.

A recomendação de Ehrlich foi reiterada alguns anos depois pelo Clube de Roma – rede internacional de cientistas e industriais – que em 1972 publicou o relatório “The Limits to Growth”, no qual demonstra apropriadamente a relação dinâmica entre o aumento do consumo e a ideia de “fronteiras planetárias” que não podem ser cruzadas sem que haja risco de uma mudança ambiental severa.

Dos nove limites planetários, seis foram ultrapassados. Apenas acidificação do oceano, depleção do ozônio estratosférico e uso de água doce permanecem na zona “segura”. Gráfico adaptado de Azote for Stockholm Resilience Centre, com base na análise de Wang-Erlandsson et al. 2022, CC BY-SA

É verdade que algumas tecnologias tornaram a produção mais eficiente (pense nos fertilizantes), pois aliviaram o impacto do crescimento populacional quanto ao uso de recursos. Mas pouca dúvida permanece de que a raça humana ultrapassou bastante os limites seguros do espaço operacional de seis dos nove domínios planetários, conforme mostra o gráfico acima.

Uma população menor ainda pode ser mais destrutiva

No entanto, é difícil estimar quantos seres humanos o planeta pode suportar de forma sustentável. Isso geralmente é negligenciado nos debates sobre políticas, que geralmente lidam com a questão de maneira bastante simplista, baseando-se na suposição de que o aumento dos padrões de vida produzirá taxas mais baixas de natalidade. Portanto, continua o argumento de que a população global diminuirá assim que continentes como a Ásia e a África atingirem níveis de desenvolvimento semelhantes aos da Europa e da América do Norte.

A falácia aqui é assumir que apenas a tecnologia e a população são importantes. Hoje em dia, os cientistas ambientais na maioria das vezes concordam que o impacto geral também é uma função da riqueza (a chamada equação I=PAT). Isso pode facilmente gerar um paradoxo. Os países continuam aumentando seus padrões de vida e o consumo per capita, resultando em populações menores, mas impactos ecológicos muito maiores.

Veja o caso da China. As taxas de crescimento populacional naquele país que na década de 1970 eram de 2,8%, tiveram este ano seu primeiro declínio em termos absolutos. Entretanto, durante esse mesmo período, os níveis gerais de consumo do país aumentaram enormemente, resultando em um impacto líquido muito pior. O mesmo se aplica à Índia e à maioria das economias emergentes e em desenvolvimento. Se essa tendência continuar, podemos acabar com uma população global menor, mas com efeitos significativamente mais destrutivos ao planeta.

O crescimento populacional da China desacelerou, mas o consumo disparou.
Foto: Shenyang/Liaoning / Cortesia: Bernd Müller/Pixabay

Desenvolvendo uma “economia do bem-estar”

Chegou a hora de repensar nossa abordagem com relação à riqueza e desenvolver maneiras diferentes que possam melhorar os padrões de vida. Em um novo relatório para o Clube de Roma, intitulado Earth4All, argumentamos que os países (em especial os mais industrializados) devem substituir a busca pelo crescimento econômico por medidas mais amplas de bem-estar social e ecológico. Isso resultaria numa queda significativa do consumo de material, sem prejudicar a qualidade de vida em geral.

O que isso significa na prática? As políticas devem aperfeiçoar o uso e a eficiência energética, além de incentivar um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a igualdade de gênero, pois o empoderamento das mulheres é um fator determinante do crescimento populacional.

Também precisamos de práticas regenerativas e soluções caseiras para fabricação e produção de alimentos (cerca de 30% dos alimentos a nível global são perdidos ou desperdiçados por conta do consumo excessivo e padrões estéticos).

Essa abordagem de “economia do bem-estar” ajudaria todos os países (incluindo os mais pobres) a saltar para um tipo diferente de desenvolvimento, capaz de combinar alta qualidade de vida com impactos ambientais muito limitados. É a diferença entre uma economia extrativa e linear que transforma recursos em emissões e uma economia circular regenerativa que não produz resíduos porque a saída de qualquer processo torna-se a entrada de outro.

Há um enorme espaço para melhorias. Afinal, a maior parte do nosso bem-estar não depende do consumo material (acima de um nível mínimo suficiente), mas da qualidade de nossas relações sociais e do ambiente em que vivemos. Em última análise, viver melhor e com mais equidade nos ajudará a encontrar o equilíbrio certo também em termos de população global, sem a necessidade de impor restrições.

Artigo original (em inglês) publicado pela The Conversation.

Sobre os autores

Nota: Os autores não trabalham, não são consultores, nem possuem ações ou recebem financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficiem deste artigo, e não divulgaram nenhuma afiliação relevante além da acadêmica.

A Universidade de Surrey e a University College London (UCL) fornecem financiamentos como membros do The Conversation UK.

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