Urina vira água potável em traje espacial no estilo Duna

Imagem renderizada de um astronauta vestido com um traje espacial e carregando uma caixa nas costas de pé na superfície do parece ser a Lua ilustra o post cujo título diz que a urina vira água potável em traje espacial no estilo Duna.
O novo design do traje espacial (ilustrado) para coletar a urina de astronauta e a reciclar em água potável pesa cerca de 8 quilos e pode purificar meio litro de água em cinco minutos. Crédito: Freman Space Team (illustration), NASA.

Na série de ficção científica Duna, os Fremen do planeta árido Arrakis que vivem no deserto reciclam o suor do próprio corpo usando roupas especialmente projetadas para este propósito, chamadas de stillsuits. Inspirado por tais imaginações, um novo protótipo de traje espacial converte a urina dos astronautas em água potável, conforme relato dos pesquisadores em 12 de julho na revista Frontiers in Space Technology.

“Sou fã da série Duna desde que me lembro”, diz Sofia Etlin, pesquisadora de medicina e política espacial da Universidade Cornell. “Construir um traje na vida real sempre foi um sonho”.

Enquanto estão vestidos no espaço, os astronautas atualmente se aliviam no que é conhecido como vestimenta de absorção máxima, que é essencialmente uma fralda de várias camadas contendo um polímero superabsorvente (SN: 3/11/11). A vestimenta é conhecida por ser desconfortável, vazar e causar infecções do trato urinário.

Os designs de trajes espaciais atuais também incorporam um saco de bebida no traje, ou IDB, que carrega menos de um litro de água. Às vezes, os astronautas podem fazer caminhadas espaciais de oito a 12 horas, o que geralmente inclui enormes quantidades de esforço físico, diz Etlin.

As futuras missões Artemis da NASA na Lua provavelmente verão os exploradores passando pelo menos tanto ou mais tempo na superfície lunar, embora os planos atuais os façam levar IDBs do mesmo tamanho, diz ela (SN: 12/1/22).

Etlin e seus colegas projetaram e construíram um novo tipo de roupa íntima com um copo de coleta que se adequa às partes íntimas dos astronautas. A urina é encaminhada para um sistema de filtragem que primeiro remove a água salgada e, em seguida, usa uma bomba para retirar o sal dessa água. Depois, a água filtrada é enriquecida com eletrólitos e então enviada para o IDB.

O traje fictício dos Fremen é alimentado pelo movimento do corpo, mas os astronautas terão que carregar uma bateria de 20,5 volts como parte desse novo design. O sistema total, incluindo bombas, sensores e tela de exibição, pesa cerca de oito quilos e pode purificar meio litro de água em cinco minutos.

Etlin diz que o suor – que os trajes fictícios também coletam – seria mais fácil de filtrar do que a urina. Todavia, ela e seus colegas decidiram se concentrar em um único resíduo para seu primeiro protótipo. “Um passo de cada vez”, ela complementa.

Aqui na Terra, a equipe espera testar ainda mais seu sistema durante missões simuladas à Lua e a Marte e, eventualmente, durante caminhadas espaciais reais.

“Seria incrível para nós”, diz Julio Rezende, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal, Brasil, que lidera a Habitat Marte, uma missão análoga ao planeta Marte, conduzida no Brasil. “Acredito que essa tecnologia traria muitos benefícios”.

Rezende também vê potenciais desdobramentos terrestres, como um sistema semelhante que poderia ser usado para bombeiros que combatem incêndios florestais ou para pessoas que fazem caminhadas em trilhas longas.

Citações

S. Etlin et al. Enhanced astronaut hygiene and mission efficiency: A novel approach to in-suit waste management and water recovery in spacewalks. Frontiers in Space Technology. July 12, 2024. doi: 10.3389/frspt.2024.1391200.

Artigo original (em inglês) publicado por Adam Mann na ScienceNews.

Sobre o autor
Adam Mann é o escritor temporário de astronomia da Science News. Ele é formado em astrofísica pela Universidade da Califórnia, Berkeley, e tem mestrado em redação científica pela Universidade da Califórnia, Santa Cruz.

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