A Era Inteligente que estamos entrando não é só sobre tecnologia

Imagem parcial do globo terrestre envolvido por linhas digitais em várias direções que mostram pontos de led ao se cruzarem ilustra o post cujo título diz que a Era Inteligente que estamos entrando não é só sobre tecnologia.
Estamos entrando na Era Inteligente, uma era que vai muito além da tecnologia. Crédito: Raw Pixel/Freepik.
  • Os avanços rápidos da inteligência artificial, computação quântica e blockchain nos impulsionaram para a Era Inteligente.
  • Se gerenciada de forma cooperativa e consciente, essa revolução pode aumentar o potencial humano.
  • As inteligências social, geopolítica, tecnológica e ambiental serão fundamentais para o sucesso na Era Inteligente.

Quase uma década atrás, em 2016, cunhei o termo Quarta Revolução Industrial. Eu poderia ver um mundo no qual a fusão de nossas realidades físicas, digitais e biológicas transformaria indústrias e sociedades. Essa revolução, eu sabia, tinha o potencial de mudar fundamentalmente todos os aspectos de nossas vidas.

Todavia, agora, ao testemunharmos a aceleração exponencial da mudança tecnológica, fica claro que não estamos mais apenas no meio de uma mudança industrial. A Era Inteligente que estamos entrando não é só sobre tecnologia, mas ela vai muito além. Esta é uma revolução social, que tem o poder de elevar a humanidade – ou mesmo de fraturá-la.

A Era Inteligente – impulsionada por rápidos avanços da inteligência artificial (IA), computação quântica e blockchain – está transformando tudo e mudando neste exato momento, em tempo real.

A Era Inteligente está sobre nós

As tecnologias convergentes estão remodelando o próprio tecido do nosso mundo, demandando uma adaptação rápida e cooperação global.

Para que essa transformação se desenvolva em vez de dividir a sociedade, ela deve ir muito além dos avanços tecnológicos para realmente poder aumentar o potencial humano. É imperativo que desenvolvamos inteligência ambiental, social e geopolítica ao lado da inteligência tecnológica.

A IA e a automação já revolucionam setores inteiros. Na área da saúde, os sistemas orientados por IA já superam os humanos para o benefício dos pacientes. No diagnóstico, a IA ajuda os médicos a tomar decisões mais precisas, vasculham vastos conjuntos de dados para descobrir novos medicamentos e desenvolvem planos de tratamento personalizados com base em informações genéticas.

Na agricultura, os agricultores já aproveitam a IA para aperfeiçoar o rendimento das colheitas, enquanto os fabricantes usam sistemas inteligentes para melhorar a eficiência da cadeia de suprimentos e reduzir o desperdício.

Até mesmo as finanças – um dos setores mais conservadores – estão sendo virados pelo avesso por algoritmos orientados por IA que preveem os movimentos do mercado com precisão e velocidade crescentes.

Porém, há também desvantagens e riscos potenciais. A automação está pronta para deslocar milhões de trabalhadores e, embora crie novas oportunidades, precisamos garantir que tenhamos as políticas, sistemas educacionais e redes de segurança social em vigor para ajudá-los na transição para novas funções. Os benefícios econômicos dessas transformações devem ser amplamente compartilhados se quisermos evitar o aprofundamento das desigualdades que ameaçam a coesão social.

A Era Inteligente também já consegue mudar a forma como vivemos nas cidades, por meio do uso de sensores e da IA para gerenciar tudo, desde o fluxo de tráfego ao uso de energia. Essas cidades e suas casas inteligentes não são apenas mais eficientes, elas são projetadas para serem mais sustentáveis, tanto pela redução das emissões de carbono como pela melhora na qualidade de vida.

Casas inteligentes consomem energia de forma mais eficiente. Crédito: Freepik.

Com a ascensão do metaverso e dos mundos virtuais, a linha entre o digital e o físico está se tornando cada vez mais tênue. Espaços virtuais surgem onde as pessoas podem trabalhar, socializar e até mesmo possuir ativos digitais – e inaugurar novas formas de interação econômica e social. Essa mudança em direção a uma realidade mais mista pode impactar profundamente a forma como definimos o espaço pessoal, a propriedade e a comunidade.

Inteligência social, geopolítica, tecnológica e ambiental

No entanto, o enorme consumo de energia demandado por novas tecnologias, especialmente em áreas como mineração de criptomoedas e computação de IA, deve representar uma pausa para nós. Ele deve ser equilibrado pela criação de soluções oriundas da energia renovável.

A inteligência ambiental trata de garantir que a Era Inteligente não exacerbe as mudanças climáticas ou esgote nossos recursos naturais, mas nos ajude a mitigar os riscos ambientais para construir economias mais sustentáveis.

A Era Inteligente já promove alterações fundamentais na forma como nos comunicamos – seja uns com os outros ou com o mundo ao nosso redor. A IA leva a comunicação instantânea e global para o próximo nível, ao permitir tradução em tempo real entre idiomas, geração automática de conteúdo e mensagens hiperpersonalizadas que atendem às preferências e comportamentos individuais.

As plataformas orientadas por IA já começam a mediar grande parte de nossa comunicação, seja por meio de algoritmos de mídia social que decidem qual conteúdo vemos ou assistentes virtuais que gerenciam nossas agendas e interações. À medida que esses sistemas se tornam mais sofisticados, eles moldam cada vez mais o fluxo de informação na sociedade, ao levantar questões importantes sobre preconceitos e desinformação.

Ao delegarmos mais tomada de decisão aos algoritmos, corremos o risco de exacerbar as divisões sociais se os sistemas forem projetados sem justiça, inclusão e a compreensão do que significa ser humano em sua essência. Inteligência social significa entender os impactos sociais mais amplos da tecnologia e garantir que a Era Inteligente promova maior inclusão e equidade, em vez de divisão e polarização.

Com o advento da Era Inteligente, somos confrontados com oportunidades e riscos sem precedentes. Para navegar nesta nova era com responsabilidade, precisamos de esforços globais coordenados em todos os setores da sociedade. Os formuladores de políticas devem trabalhar rapidamente para estabelecer regulamentações para garantir que a IA, a computação quântica e o blockchain sejam usados de forma ética e benéfica a todos.

Os sistemas educacionais devem evoluir para poderem preparar as gerações futuras para um mundo em que muitos empregos tradicionais não existirão mais e o surgimento de novas funções exigirão um conjunto de habilidades totalmente diferentes. As empresas devem repensar seus modelos para garantir que se adaptem ao dinamismo da Era Inteligente no sentido de promover um ambiente que não deixe trabalhadores e setores inteiros da sociedade para trás.

Para fazer isso bem feito, precisamos de inteligência geopolítica para navegar nas paisagens mutáveis do poder global. A IA na exploração espacial já cria novos desafios de segurança e conflitos potenciais. Inteligência geopolítica significa entender como a tecnologia se cruza com a dinâmica de poder global e promover a colaboração em vez da competição.

Artigo original (em inglês) publicado por Klaus Schwab no Fórum Econômico Mundial–WEF.

Sobre o autor
Klaus Schwab é o Fundador e Presidente Executivo do Fórum Econômico Mundial – WEF. Ele possui doutorado em Engenharia e doutorado em Economia e Ciências Sociais pelo Instituto Federal Suíço de Zurique e pela Universidade de Friburgo, respectivamente, além de um MPA pela Universidade de Harvard.


Nota do editor: O artigo “O futuro do emprego na era da sustentabilidade e desglobalização” lista dez competências que estão em alta.


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