A miopia está em crescimento, inclusive entre crianças – Veja o que fazer

Foto de uma menina fazendo exame oftalmológico com uma médica do outro lado da mesa ilustra o post cujo título diz: A miopia está em crescimento, inclusive entre crianças – Veja o que fazer
A miopia está em ascensão ... Uma em cada três crianças em todo o mundo é afetada pela miopia. Crédito: Freepik.
  • Quase 3,4 bilhões de pessoas serão míopes até 2030, alerta a Organização Mundial da Saúde.
  • A miopia também está aumentando entre as crianças, com um terço globalmente afetada, de acordo com um novo estudo.
  • O Panorama Estratégico Global de Saúde e Bem-estar do Fórum Econômico Mundial visa abordar as desigualdades no acesso à assistência médica.

A miopia está em crescimento. E talvez o mais preocupante seja que essa tendência também afeta as crianças. Cerca de 2,6 bilhões de pessoas eram míopes em 2020, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que prevê que esse número deve subir para [aproximadamente] 3,4 bilhões até 2030.

Enquanto isso, 33% das crianças e adolescentes em todo o mundo são afetadas pela miopia, de acordo com um estudo recente publicado na Revista Britânica de Oftalmologia (BJO).

A miopia inicialmente pode não parecer um problema significativo – afinal, os sintomas são facilmente corrigidos com óculos ou lentes de contato. Mas a miopia é, de fato, uma das principais causas de deficiência visual e pode resultar em cegueira.

As tendências atuais indicam que a gravidade da miopia também está aumentando e resultando em algo chamado “alta miopia”, que é quando ela progride a ponto de colocar uma pessoa em risco de degeneração macular, catarata e até mesmo descolamento de retina por glaucoma.

O número de casos de ‘alta miopia’ está aumentando, ameaçando gerar condições oculares mais graves. Crédito: OMS.

As crianças estão desenvolvendo miopia em uma idade mais jovem, o que aumenta suas chances de desenvolver alta miopia e problemas relacionados. O estudo da BJO descobriu que a miopia em crianças triplicou entre 1990 e 2023 e que o aumento foi ‘particularmente notável’ após a pandemia da COVID-19.

E então, há o custo para as comunidades. A miopia pode criar um fardo financeiro para os países, com mais de US$ 200 bilhões em perdas globais de produtividade todos os anos. E se não for corrigido, ele pode afetar negativamente a qualidade de vida e contribuir para o baixo desempenho acadêmico das crianças.

O estudo da BJO descobriu que há uma previsão de que os países em desenvolvimento possam ter 40% das pessoas míopes até 2050. O Panorama Estratégico Global de Saúde e Bem-Estar do Fórum Econômico Mundial visa abordar as disparidades de saúde desse tipo. Ele estabelece uma visão para 2035 com base em quatro pilares: acesso equitativo, transformação dos sistemas de saúde, inovação tecnológica e sustentabilidade ambiental, sendo a equidade o objetivo fundamental.

Mas por que os casos de miopia estão aumentando – e o que pode ser feito para retardar, ou mesmo reverter, a tendência?

Crescimento dentro de casa

O rápido aumento da miopia em todo o mundo exclui causas genéticas, o que levou os cientistas a buscar respostas entre os fatores ambientais. Algumas das respostas parecem estar relacionadas à educação – ou a um efeito colateral dela – e a passar o tempo dentro de casa.

Quanto mais velho você for, maior a probabilidade de você ter passado mais tempo brincando ao ar livre quando criança. No entanto, muitas crianças do século XXI estão vivenciando uma infância muito diferente da de seus pais, com um número cada vez maior de pessoas vivendo em cidades e pais mais propensos a manter seus filhos dentro de casa por razões de segurança.

A COVID-19 não ajudou: durante os bloqueios, os jovens passaram ainda menos tempo ao ar livre e mais tempo nas telas. Isso teve o efeito de acelerar a progressão da miopia, especialmente em crianças mais novas.

Cingapura entende o problema melhor do que a maioria [dos outros países], por que além de apresentar os mais altos níveis de miopia do mundo, o país realizou vários estudos desde 2001 para resolver o problema. Além dos esforços costumeiros para incentivar check-ups regulares para crianças desde a pré-escola, a orientação também é passar algum tempo fazendo atividades ao ar livre, o que ‘pode prevenir ou retardar o início da miopia‘.

Por que estar ao ar livre ajuda sua visão?

Os pesquisadores ainda trabalham para descobrir exatamente por que estar ao ar livre na presença de luz natural ajuda a prevenir a miopia. Pode ter a ver com a intensidade da luz – a luz do sol é mais brilhante do que a maioria das iluminações internas, o que pode promover um melhor crescimento dos olhos.

Também pode estar ligado à dopamina, que é liberada nos olhos quando a luz solar entra em contato com a retina. A dopamina ajuda a inibir o olho de crescer muito, o que é fundamental para reduzir as chances de miopia.

Ou pode ter relação com a síntese de vitamina D, que é desencadeada pelo tempo que somos expostos à luz natural, e isso também inibe a miopia.

Quanto tempo ao ar livre faz a diferença?

Um estudo pediu às escolas primárias em Xangai, na China, que alocassem 40 a 80 minutos adicionais de tempo ao ar livre para grupos de teste, enquanto um grupo de controle continuou seus hábitos existentes de pouco mais de duas horas por dia ao ar livre. Após dois anos, a incidência de miopia caiu nos grupos de teste entre 11 e 16% em comparação com o grupo controle.

“Há algo em estar ao ar livre que é um benefício real para as crianças”, disse Daniel Hardiman-McCartney, consultor clínico do Colégio de Optometristas do Reino Unido, em entrevista à BBC. Seja por conta da luz solar, do exercício ou da oportunidade de os olhos das crianças focarem em objetos distantes, os benefícios para a visão são claros. Tanto que os especialistas em miopia recomendam que as crianças (principalmente aquelas de sete a nove anos) passem pelo menos duas horas por dia ao ar livre.

Artigo original (em inglês) publicado por Ewan Thomson & Madeleine North no Fórum Econômico Mundial–WEF.

Sobre os autores


Ewan Thomson
Escritor Sênior, Agenda Fórum, WEF


Madeleine North
Escritora Sênior, Agenda Fórum, WEF

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