Empresas chinesas lutam para achar compradores para seus EVs

Imagem de um porto chinês mostrando um navio atracado e vários carros elétricos no pátio do porto para ilustrar post cujo título diz que empresas chinesas lutam para achar compradores para seus EVs.
Veículos elétricos reunidos no pátio de um porto chinês, esperando para serem exportados para mercados internacionais. Créditos: Imagem gerada por IA Dall-E3 (porto) e Freepik (carros).
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A indústria automotiva da China tem passado por uma revolução na última década, desde a produção clonada de modelos básicos ocidentais à fabricação de carros que podem ser equivalentes aos melhores do mundo. Como potência manufatureira global, a China também está produzindo carros em grandes volumes.

No entanto, os carros chineses estão enfrentando dificuldades para encontrar compradores na Europa. Carros importados, muitos dos quais são veículos elétricos chineses, estão se acumulando nos portos europeus, com alguns deles passando até 18 meses em estacionamentos portuários, enquanto os fabricantes lutam para levá-los às garagens das pessoas.

Mas por quê? Os veículos elétricos chineses, em particular, estão recebendo avaliações positivas. Tendo eu próprio conduzido um, posso atestar que correspondem, ou mesmo excedem em alcance, qualidade e tecnologia as marcas europeias bem conhecidas.

Mas entrar como desafiante em um mercado estabelecido é uma operação complexa. Os fabricantes chineses terão que lidar com a cautela dos compradores, a falta de imagem da marca chinesa, o protecionismo comercial e a rápida desatualização do veículo.

Falta de confiança do comprador

O programa de expansão automotiva da China traça paralelos com os movimentos feitos pelo Japão nas décadas de 1960 e 70. Naquela época, o produto vindo do Japão era louvável, mas não tinha a finesse, o design e a longevidade de seus homólogos ocidentais. Os carros japoneses eram considerados minúsculos, pouco potentes e suscetíveis à ferrugem, além de parecerem muito genéricos em comparação com os designs elegantes dos europeus.

As lembranças do envolvimento do Japão na Segunda Guerra Mundial também estavam frescas na mente dos compradores (particularmente americanos), que demoraram a perdoar uma nação que lançou os ataques a Pearl Harbor. No entanto, ao se concentrar constantemente em um produto confiável, relativamente barato e cada vez mais elegante, o Japão lentamente transformou isso para se tornar a potência automotiva dos anos 1990 e 2000.

A China é vista com desconfiança por muitos ocidentais, e suas montadoras são igualmente prejudicadas por seu legado recente de clonar ilegalmente carros europeus. Mas com as lições dos japoneses para aprender, os carros chineses estão fazendo avanços para que possam se igualar ou superar as alternativas existentes.

Compras estratégicas de marcas como Volvo, Lotus e MG também deram à China marcas existentes que são respeitadas e, mais importante, têm alguns dos melhores conhecimentos de engenharia do mundo.

No entanto, mesmo depois de comprar marcas ocidentais, as montadoras chinesas se mostraram incapazes de conquistar a lealdade de clientes existentes de marcas como BMW, Porsche, Ferrari e Ford. Para os compradores dessas marcas, sua história conhecida em termos de confiabilidade e até mesmo coisas como o sucesso no esporte motorizado é algo que os fabricantes chineses – assim como os japoneses – terão que construir ao longo do tempo.

Foram as concessionárias Ford que, na década de 1960, cunharam a frase: “Ganhe no domingo, venda na segunda-feira”. A frase é como um adágio para atestar o fato de que, se os compradores virem um carro vencendo uma corrida, eles serão motivados a comprar um.

A Ford tem uma história rica em corridas. Imagem: Annick Vanblaere/Pixabay.

Os fabricantes existentes também têm um legado de confiabilidade que os compradores experimentaram por si mesmos, dando um enorme benefício de fidelidade à marca. Adicione a isso a falta de uma rede de revendedores estabelecida fora da China e você vê como os fabricantes chineses lutam contra a concorrência estabelecida.

Um ambiente comercial desafiador

A China tem uma vantagem de preço em comparação com a Europa ou os EUA. Economias de escala, excelentes ligações marítimas e mão de obra barata significam que os carros chineses são mais baratos tanto para fabricar como para comprar.

No entanto, em muitos países, eles estão sujeitos a altas tarifas de importação. Atualmente, a União Europeia (UE) impõe uma tarifa de importação de 10% sobre cada carro trazido. E nos EUA, as importações de carros da China estão sujeitas a uma tarifa de 27,5%.

Essas tarifas podem subir ainda mais. A UE está conduzindo uma investigação para apurar se a sua tarifa é demasiadamente baixa. Se isso for concluído ainda este ano, tarifas mais altas serão aplicadas de forma retroativa aos carros importados.

Os carros, e especificamente os veículos elétricos, também estão em um estágio de desenvolvimento no qual enfrentam mudanças e atualizações rápidas. Tradicionalmente, os modelos de veículos teriam uma vida útil de mercado entre quatro e sete anos, talvez com pequenas atualizações no acabamento, paleta de cores ou disponibilidade de recursos.

Mas a Tesla virou isso pelo avesso. O Tesla Model S, por exemplo, tem visto atualizações de produto quase contínuas que o tornam pouco reconhecível em termos de hardware [quando comparado com] um carro lançado em 2012. As montadoras chinesas perceberam isso e passaram a lançar novos modelos cerca de 30% mais rápidos do que na maioria das outras nações.

A Tesla está dando suporte aos proprietários de carros mais antigos com atualizações e custos extras para alinhá-los com o hardware mais recente. Sem suporte de software garantido como este, a taxa em que as montadoras chinesas estão lançando novos modelos pode fazer com que os compradores desconfiem de que o produto que compraram logo ficará desatualizado em comparação com a compra de um carro que tenha um ciclo de atualização mais tradicional.

Como ter sucesso

Muitos desses fatores podem ser corrigidos. Eles também combinam mais com compradores privados do que com compradores empresariais, que estão mais preocupados com o custo. Os fabricantes chineses fariam bem em entrar com mais força neste mercado.

No Reino Unido, o mercado de frotas supera o mercado privado, e a situação é semelhante na Europa. Vender em massa para frotas e locadoras coloca mais carros na estrada e permite que mais dados sobre confiabilidade cheguem ao mercado.

O caminho para o sucesso num novo mercado como o da UE será lento e acidentado. Mas está claro que a China está focada em seu impulso global. Resta saber se essa falta de compradores pode ser revertida.

Artigo original (em inglês) publicado por Tom Stacey na The Conversation UK.


Sobre o autor
Tom Stacey é Professor Sênior em Operações e Gerenciamento da Cadeia de Suprimento na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.

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