Empresas de combustíveis fósseis estão sequestrando universidades
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Nos Estados Unidos, universidades de elite que conduzem pesquisas climáticas importantes estão arrecadando milhões de dólares de empresas de combustíveis fósseis, potencialmente criando conflitos de interesse.
Tudo isso faz parte de uma série de relatórios novos, compilados por organizadores estudantis, e divulgados pela Campus Climate Network, rede liderada por estudantes universitários, conforme relatado pelo The Guardian.
“As universidades em todo o mundo são frequentemente apanhadas em uma teia de dependências financeiras e de pesquisa com o setor de combustíveis fósseis. Esses laços não apenas entram em conflito com a ética da independência acadêmica, mas também impedem o progresso da pesquisa climática genuína”, disse a Campus Climate Network em seu site.
Uma instituição, a Universidade de Princeton, parece ter sido dona de uma empresa de petróleo – Petrotiger, em homenagem ao seu mascote – ganhando milhões de dólares, relatou o The Guardian.
Seis análises elaboradas por alunos de cada instituição se concentraram em Princeton, American University, University of North Carolina Chapel Hill, Cornell University, Columbia University e University of California, San Diego.
“As empresas de combustíveis fósseis estão sequestrando nossas universidades para perpetuar sua própria indústria tóxica, e nós, alunos, não estamos mais tolerando isso”, disse Will Kattrup, líder de pesquisa da Campus Climate Network, conforme divulgado pelo The Guardian.
Para documentar o financiamento universitário proveniente de combustíveis fósseis, os responsáveis pela pesquisa analisaram formulários fiscais que revelavam doações de empresas petrolíferas a universidades, rastrearam declarações de conflito de interesses em artigos acadêmicos e pesquisaram nomes de membros do conselho escolar associados a interesses da indústria fóssil. Pedidos públicos para informações financeiras adicionais também foram apresentados por alunos que frequentam universidades públicas.
Os pesquisadores descobriram que desde 2003 as seis instituições de prestígio receberam um total superior a US$ 100 milhões em financiamento vinculado à indústria fóssil, feito diretamente pelas empresas ou por suas divisões de caridade.
Além disso, os organizadores estudantis disseram que as empresas que são facilitadoras da indústria de combustíveis fósseis doaram milhões [a] grupos que espalham desinformação climática e bancos que financiam a expansão do petróleo.
Os alunos enfatizaram que os valores doados foram subestimados, já que a maioria dos centros de pesquisa nas universidades não divulga publicamente [quem são] seus doadores, e alguns dos dados remontam apenas à última década.
Um total de 1.507 artigos acadêmicos publicados nas universidades foi financiado por pessoas com interesses ligados ao petróleo e gás, o que suscitou preocupações de parcialidade. Vários indivíduos ligados aos combustíveis fósseis também foram colocados em conselhos universitários – conselhos de administração que, em alguns casos, frequentemente definem as políticas das respectivas instituições.
Alex Norbrook, um aluno do segundo ano em Princeton, descobriu que sua universidade parecia ter recebido quase US$ 140 milhões na última década, em receita de investimento e contribuições financeiras diretas da Petrotiger, sua empresa de petróleo e gás, com sede em Houston.
De acordo com a pesquisa, um porta-voz da Universidade de Princeton e seus funcionários não comentaram sobre o relacionamento que a universidade tem com a Petrotiger.
Entre 2013 e 2023, Princeton também recebeu mais de US$ 40 milhões de empresas de combustíveis fósseis. Durante essa década, a universidade relatou uma receita de mais de US$ 350 milhões oriunda de seus investimentos no setor de petróleo e gás. Os alunos salientaram que as relações financeiras persistiram apesar da decisão da universidade, em setembro de 2022, de se dissociar das maiores empresas de combustíveis fósseis.
“A alegação que Princeton faz de que é uma líder climática é falsa. A universidade não pode fazer essa afirmação enquanto continua nos bastidores promovendo a indústria de combustíveis fósseis”, disse Norbrook, de acordo com o The Guardian.
Da mesma forma, os alunos da American University descobriram que a indústria de combustíveis fósseis fez contribuições de US$ 1 milhão para a universidade na última década. A Fundação Koch – que tem um histórico de lançar dúvidas sobre a ciência do clima – também deu à universidade quase US$ 1,41 milhão.
Os pesquisadores descobriram que desde 2005 a Universidade de Columbia já recebeu US$ 43,7 milhões em fundos ligados aos combustíveis fósseis, bem como produziu 784 trabalhos acadêmicos com fundos dessa indústria.
O Centro de Política Energética Global, da Columbia, também recebeu mais de US$ 15 milhões em fundos da indústria desde sua fundação em 2013.
Um estudo publicado pela WIREs Climate Change no início deste mês examinou a influência da indústria de combustíveis fósseis no setor acadêmico e descobriu que o financiamento dos esforços climáticos das universidades por empresas do setor está atrasando a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
“É hora de nossas universidades se tornarem verdadeiros líderes climáticos e cortarem os laços com a indústria de combustíveis fósseis de uma vez por todas”, disse Maddie Young, organizadora estudantil do Sunrise Movement na American University e gerente de pesquisa da Campus Climate Network, conforme disse o The Guardian.
Artigo original (em inglês) publicado por Cristen Hemingway Jaynes na EcoWatch.
Sobre a autora
Cristen Hemingway Jaynes é uma escritora de ficção e não ficção. Ela possui diploma Juris Doctor e Certificado de Direito Oceânico e Costeiro pela Universidade do Oregon, além de mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Londres. Cristen é a autora da coleção de contos The Smallest of Entryways e da biografia de viagem Ernest’s Way: An International Journey Through Hemingway’s Life.