Estudo revela os perigos da ingestão de plásticos presentes em líquidos

Imagem de uma pessoa bebendo água numa garrafa plástica para ilustrar que um estudo revela os perigos da ingestão de nanoplásticos presentes em líquidos
Um novo estudo com moscas-de-frutas alerta para os perigos da ingestão de microplásticos | Foto: Peggy & Marco Lachmann-Anke/Pixabay

Depois que pesquisadores descobriram pela primeira vez a presença de partículas de plástico em nossos pulmões e corrente sanguínea, evidências começam a se acumular sobre a capacidade de tais partículas atingirem todos os cantos do corpo humano. O que isso significa para nossa saúde ainda é uma grande incógnita, mas um estudo revela os perigos da ingestão de plásticos presentes em líquidos.

Cientistas conduziram o experimento com as Drosophila melanogaster, conhecidas como moscas de fruta, em busca de respostas para os danos que o plástico causa à saúde humana, rastreando suas partículas através do trato intestinal para constatar que elas alteram a expressão gênica envolvida na resposta ao estresse e a danos oxidativos.

Embora a pesquisa comece a delinear uma imagem do que pequenas partículas de plástico podem significar para os organismos marinhos (descobertas que incluem aneurismas em peixes, função cognitiva prejudicada em caranguejos eremitas e anormalidades na forma de nadar de camarões), nossa compreensão dos impactos humanos ainda é limitada.

Estudos de laboratório têm mostrado que partículas de plástico podem alterar a forma das células pulmonares e ter efeitos tóxicos nas células humanas de uma maneira mais ampla, mas entender seu comportamento dentro do corpo vivo é outra questão.

Para explorar tal possibilidade, os autores do estudo, da Universitat Autònoma de Barcelona, usaram a mosca Drosophila melanogaster como modelo – empregada em pesquisas genéticas há muito tempo – por ela apresentar uma alta porcentagem de genes de compartilhamento de doenças que são semelhantes aos dos humanos. Eles dizem que essa abordagem também supera algumas das limitações na medição do acúmulo de plástico nos tecidos humanos.

Trabalhando com fragmentos de poliestireno de tamanhos diferentes, os cientistas usaram a microscopia eletrônica de transmissão para acompanhar o caminho das partículas desde sua ingestão até chegarem à hemolinfa (líquido dos invertebrados equivalente ao sangue em humanos) das larvas das moscas de fruta.

Tal observação permitiu que os pesquisadores produzissem uma espécie de “relato fotográfico” para revelar o comportamento dos plásticos na medida em que interagiam com a microbiota e as células enquanto se moviam pelo trato intestinal – o que revelou uma capacidade de atravessar a barreira intestinal e entrar na hemolinfa.

Embora os cientistas não relatem evidências significativas de toxicidade, as partículas de plástico desencadearam amplas mudanças moleculares que alteraram a expressão de genes envolvidos na resposta geral ao estresse.

As partículas também alteraram a expressão gênica associada a danos oxidativos e danos ao DNA, juntamente com genes relacionados a uma resposta a danos físicos da barreira intestinal. As partículas usadas no estudo tinham 50, 200 e 500 nanômetros de tamanho e, curiosamente, os cientistas descobriram que quanto menores elas fossem, mais respostas induziriam.

Nosso trabalho agrega informações sobre o que acontece – em termos de efeitos – quando ocorre uma exposição a nanoplásticos que, por apresentarem tamanhos minúsculos, são de particular relevância para nós, em função de sua maior capacidade para romper barreiras biológicas e produzir efeitos toxicológicos que podem afetar a saúde de organismos, incluindo humanos.

Alba Hernández Bonilla, coautora do estudo

Os estudos continuam a iluminar uma grande variedade de fontes de exposição humana a microplásticos. Entre os principais culpados estão os copos descartáveis de café ​​e as garrafas plásticas de água, os quais lançam grandes quantidades de partículas nos líquidos que os contêm.

Enquanto isso, os cientistas também consideram como respiráveis partículas que medem entre 1 nanômetro e 20 micrômetros, as quais podem ser transportadas pelo ar, o que significa que as partículas no cerne deste estudo podem ter entrado diretamente no corpo humano por meio de sua inalação.

“Além de estabelecer uma nova abordagem metodológica, nosso estudo confirma as grandes vantagens da mosca Drosophila melanogaster como modelo para determinar os potenciais efeitos nocivos que estão associados à ingestão desses poluentes”, explica Ricard Marcos, coordenador do estudo.

O estudo foi publicado no periódico científico Environmental Science: Nano.

Fonte: Universitat Autònoma de Barcelona.

Artigo original (em inglês) publicado por Nick Lavars na New Atlas.

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Sobre o autor
Nick Lavars tem escrito e editado na New Atlas por mais de seis anos, onde cobriu de tudo, desde sondas espaciais distantes a carros autônomos e ciência animal esquisita. Antes disso ele passou pela The Conversation, Mashable e The Santiago Times, obtendo ao longo do caminho um mestrado em comunicações pela RMIT University, de Melbourne.

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