O que é COP? Aqui está uma explicação prática
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Recebo muitas perguntas sobre as conferências da COP das Nações Unidas: devo ir? Como faço para participar? O que de fato acontece? E assim por diante. Daí, esta explicação, originalmente elaborada para a equipe da GreenBiz. Não é oficial ou abrangente; apenas a perspectiva de alguém que há anos vai a esses eventos.
O que é COP?
Todos os anos, entre novembro e dezembro, a ONU, por meio de sua Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), reúne representantes de aproximadamente 200 nações (numa “Conferência das Partes”, ou COP) para avaliar o progresso e negociar os termos dos acordos climáticos globais.
O foco durante grande parte da última década foi o avanço das metas estabelecidas na COP21 em 2015, que gerou o Acordo de Paris, um tratado internacional juridicamente vinculativo sobre as mudanças climáticas, adotado por 196 países.
As conferências são realizadas em todo o mundo (mas nunca nos EUA, por razões das quais não tenho certeza absoluta). Elas normalmente se estendem por mais de duas semanas. A COP28 acontece em Dubai, de 30/11 a 12/12 de 2023, e o tema geral é um “balanço global” – na verdade, um inventário do progresso de cada país para avaliar o avanço em direção ao cumprimento das metas do Acordo de Paris.
Alerta de spoiler: não está indo bem.
Cada COP é um evento lotado e muitas vezes confuso, mas também uma grande experiência de aprendizado – embora avassaladora – e tendem a atrair 20.000 pessoas ou mais, embora a maioria não compareça durante os 12 dias inteiros.
Nota: Há uma série separada da COP da ONU, a Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas, que acontece a cada dois anos. De forma um tanto confusa, tem seu próprio sistema de numeração semelhante ao das COPs climáticas. A COP da biodiversidade mais recente foi a COP15, em Montreal, em dezembro de 2022.
Como faço para ter acesso?
Todas as credenciais são emitidas pelas Nações Unidas. É um sistema bastante complicado, com vários tipos de credenciais, cada um com seu próprio nível de acesso. A maioria destina-se a governos ou organizações não governamentais (ONGs).
Meus colegas e eu normalmente participamos como imprensa e somos obrigados a mostrar links para artigos reais como parte do processo de inscrição. No entanto, pode-se participar de muitas coisas (veja abaixo) sem nenhuma credencial. Para a minha primeira COP, em Copenhague, eu não tinha credenciais, embora ainda conseguisse fazer algumas coisas legais.
O que de fato acontece na COP?
Penso na COP como uma série de círculos concêntricos.
No círculo central está a Zona Azul, que abriga as negociações entre as nações reunidas sobre os termos do tratado, e o progresso que está sendo feito, ou a falta dele. Os participantes – de CEOs a chefes de Estado e celebridades – costumam aparecer, ainda que brevemente, nas negociações e podem falar com os delegados. A maioria desses figurões, no entanto, passa a maior parte do tempo em reuniões e eventos privados.
A Zona Azul é, compreensivelmente, uma área de alta segurança que é restrita às pessoas que possuem certas credenciais (incluindo a imprensa). A Zona Azul também tem um espaço enorme de exposição, onde as delegações nacionais têm pavilhões – alguns pequenos, outros bastante grandes, com espaços para eventos, salas de reuniões privadas e muito mais. Várias ONGs também expõem aqui, juntamente com um número muito pequeno de empresas; não está claro quais empresas vão expor lá.
A Zona Azul é o mais próximo que a COP tem de um palco principal, embora as reuniões da ONU sejam muitas vezes performativas e não tão esclarecedoras, a menos que você seja um nerd na área de política climática. (Grande parte do trabalho real acontece em salas de reuniões menores.) Há muito procedimento parlamentar, não há muitos discursos envolventes, com apenas raros flashes de drama entre os delegados.
Muitos dias de COP são temáticos. Na COP28, haverá um Dia das Finanças, Dia da Tecnologia e Inovação, Dia da Juventude, Dia da Inclusão, Dia da Energia e da Indústria, Dia da Natureza e vários outros. Esses temas informam, mas não ditam, algumas atividades que acontecem na Zona Azul. Na realidade, todos esses tópicos e outros tantos estão na frente e no centro na maioria dos dias.
Do lado de fora da Zona Azul estão manifestantes de vários matizes, de grupos indígenas a grupos do bem-estar animal (muitas vezes em trajes de animais) e aqueles que pedem a eliminação imediata dos combustíveis fósseis (um grande problema, especialmente este ano). Eles podem ser divertidos ou irritantes, dependendo do quanto impedem o fluxo de pessoas e o trânsito.
O segundo cículo está a Zona Verde, um espaço de exposição principalmente para ONGs. É gratuito e aberto ao público, embora fora da área segura, mas com algum nível de segurança.
Desde a COP18, existe um Hub de Ação Climática, também não muito longe da Zona Azul e aberto a quem se candidatar a um passe, onde acontecem várias séries de palestras e outros eventos. Há também uma Zona de Inovação de Ação Climática com empresas e eventos de tecnologia climática, e um Hub de Resiliência com extensa programação. Alguns desses programas também são transmitidos ao vivo para vários países.
No terceiro círculo estão eventos paralelos oficiais, geralmente em hotéis ou centros de conferências próximos: a Cúpula Mundial do Clima, o Fórum de Inovação Sustentável, o Fórum de Inovação Climática e eventos do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, Fórum Econômico Mundial e muitos outros. Bloomberg, The Economist, The New York Times, Fortune, Financial Times e The Wall Street Journal frequentemente realizam eventos de um ou dois dias. O país anfitrião normalmente hospeda uma série de eventos paralelos oficiais ou pavilhões ao redor da cidade.
O círculo final é, digamos, todo o resto. Centenas, possivelmente milhares, de recepções, painéis de discussão, cafés da manhã, almoços, jantares, coquetéis, encontros e muito mais ocorrendo em toda a região.
Na COP27, por exemplo, participei de um jantar organizado por uma empresa de carne celular com sede em Israel, uma recepção organizada pela Los Angeles Cleantech Incubator e uma mesa redonda no espaço Zero-Carbon Future, entre o que parecia um número vertiginoso de outros eventos.
No ano anterior, em Glasgow, falei em um evento de um dia inteiro patrocinado pela S&P Global, participei de uma recepção no escritório local da JLL e participei de eventos apenas para convidados liderados pelo arquiteto e designer Bill McDonough (que muitas vezes hospeda seu próprio espaço de networking na COP). Dá para ter uma noção: muita atividade, dia e noite.
Então, devo ir?
É difícil argumentar a favor ou contra. Cada COP é um evento lotado e muitas vezes confuso. A logística pode ser extremamente desafiadora. (Pense em todos os participantes e suas carreatas bloqueando o trânsito, sem mencionar a demanda por táxis e o congestionamento para o resto de nós.)
Ser uma pessoa engenhosa, flexível, espontânea e paciente são boas qualidades. Pode-se planejar algumas atividades antes de sair de casa, mas grande parte do meu itinerário acontece quando estou no chão em tempo real. Infelizmente, não há um repositório central de informações de eventos relacionados à COP, pelo menos além dos eventos oficiais da ONU.
Também é caro viajar para as COPs – as acomodações podem ser caras e muitas vezes a uma distância razoável do burburinho. O custo (e a pegada de carbono) por si só pode ser difícil de justificar para muitas pessoas. É melhor planejar no início do ano, mas boas ofertas podem ser encontradas mais perto do evento. Normalmente faço meus arranjos no final da primavera para obter estadia e voos a preços razoáveis.
No geral, embora avassaladora, a COP pode ser uma grande experiência de aprendizado, uma oportunidade para conhecer pessoas de todo o mundo e mergulhar em um conjunto muito mais amplo de questões e experiências de vida do que normalmente se encontra. Pode ser uma ou duas semanas ricas e gratificantes, e é por isso que continuo voltando. Você só precisará criar sua própria experiência.
Artigo original (em inglês) publicado por Joel Makower na GreenBiz.
Sobre o autor
Joel Makower é presidente e cofundador do GreenBiz Group, uma empresa de mídia e eventos com foco na interseção de negócios, tecnologia e sustentabilidade. Por mais de 30 anos e por meio de sua escrita, fala e liderança, ele tem ajudado empresas a alinhar questões ambientais e sociais prementes com o sucesso dos negócios. Twitter/X: @makower