‘Portal para o Inferno’ cresce 991 mil metros cúbicos a cada ano

Imagem da batagaika – uma crescente depressão no solo da camada permafrost da Sibéria – ilustra o post cujo título diz que o 'Portal para o Inferno' cresce 991 mil metros cúbicos a cada ano.
Este buraco crescente de destruição da camada permafrost era originalmente uma pequena depressão no solo na década de 1960, Crédito: Murton et al./Permafrost Periglacial Processes/New Atlas.

Seja você um fã de John Carpenter ou uma entusiasta da biologia, você não precisa de muito convencimento para saber que a permafrost [camada do subsolo da crosta terrestre] que está derretendo nos polos não é uma coisa boa. No ano passado, os cientistas nos deram mais um adicional para perder o sono, ressuscitando um “vírus zumbi” de 48.500 anos que foi desenterrado da permafrost do Ártico – e essa não foi a primeira vez. A ameaça de doenças antigas que estão congeladas e adormecidas há milênios, é mais uma alfinetada na cauda das mudanças climáticas.

Agora, uma nova pesquisa detalhou a taxa em que a enorme cratera Batagaika da Sibéria está devorando a superfície da Terra, expandindo-se a uma taxa de 991 mil metros cúbicos a cada ano. Atualmente, ela mede cerca de 1 km de comprimento e 800 m de diâmetro em seu ponto mais largo. E segue acelerando.

A Batagaika fica localizada na Cordilheira de Chersky, no nordeste da Sibéria, e na verdade não é uma cratera, mas uma depressão tipo thermokarst – uma espécie de superfície irregular de terra (sumidouro) impulsionada por seu colapso e fratura decorrente da perda da camada permafrost. Ela só foi descoberta em 1991, depois que essa abertura subterrânea se dividiu ainda mais e levou consigo uma grande parte da encosta.

A permafrost, apesar do nome, não é realmente permanente; é essencialmente o solo que permaneceu congelado por mais de dois anos. Um quarto da superfície terrestre do Hemisfério Norte é composto dessa terra congelada e dura como pedra que pode ter uma profundidade que varia entre alguns metros a quase 1,5 km.

Então, por que a Batagaika – que fica em uma área bastante remota da Sibéria – está causando tanto alarme? Sua rápida expansão agora é alimentada pelo aquecimento global, o que desencadeou um ciclo de feedback positivo que provavelmente não diminuirá enquanto houver gelo para descongelar.

Quando a camada de permafrost se degrada, ou derrete, ela muda da consistência do concreto para uma massa lamacenta, que é incapaz de suportar a vegetação na superfície. À medida que as bordas da extensão desabam nela, o solo perde as copas das árvores que o protegem do sol (e do calor). Neste ponto, a matéria orgânica recém-exposta, não mais preservada no gelo, se decompõe e libera carbono na atmosfera – o que alimenta ainda mais o aquecimento global e, claro, resulta em cada vez mais perda da permafrost.

Quanto aos vírus antigos, não sabemos se eles estão equipados para sobreviver por muito tempo quando expostos à atmosfera terrestre – mas também não sabemos se nossa biologia e medicina modernas estão equipadas para lidar com novos vírus que retornam de 50.000 anos de dormência. Em 2016, acredita-se que um degelo da permafrost liberou o Bacillus anthracis, causador do antraz, que matou 2.649 renas e uma criança e resultou em dezenas de moradores doentes.

A dramática formação da Batagaika – que lhe rendeu os apelidos de ‘portal para o inferno’ e ‘porta de entrada para o submundo’ – tem bordas íngremes semelhantes a penhascos, revelando a permafrost que se estima ter sido congelada por 650 mil anos. Atualmente ela tem cerca de 50 m de profundidade, com áreas atingindo 100 metros.

E as boas notícias? Bem, a Batagaika tornou-se uma espécie de atração turística…

Fonte: Geomorphology.

Artigo original (em inglês) publicado por Bronwyn Thompson na New Atlas.


Sobre a autora
Bronwyn Thompson tem diplomas de jornalismo e zoologia e possui mais de 20 anos como escritora e editora. Ela tem interesse particular em neurociência, genética, comportamento animal e biologia evolutiva. Em fevereiro de 2023, Bronwyn encontrou um lar feliz na New Atlas.

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