Três lições de sustentabilidade sobre os sistemas alimentares
No ano passado, destacamos 12 mulheres com grandes ambições de transformar os sistemas alimentares em 2023. De líderes de sustentabilidade corporativa a defensoras da sociedade civil, jornalistas e fundadoras de startups, todas representavam muitas alavancas vitais para a mudança.
No final de 2023, conversamos com elas para aprender sobre suas realizações mais impactantes e reunir lições aprendidas.
Elas fizeram um trabalho impressionante: Arohi Sharma, do Conselho de Defesa de Recursos Naturais, trabalhou com o ator e comediante Nick Offerman em uma campanha “o solo é atraente”. Julia Person, da Bob’s Red Mill, evitou o desperdício de quase 200.000 quilos de alimentos. E Corey Scott, da Athian, começou a desenvolver novas maneiras de avaliar as consequências ambientais oriundas da produção pecuária.
Três temas para aceleração de impactos destacam-se dessas iniciativas.
Transformar os sistemas alimentares requer a abordagem de questões complicadas, mesmo quando esse trabalho é frustrante ou desconfortável; alavancar parcerias não convencionais pode compensar; e desbloquear o poder das comunidades cria mudanças no terreno.
Enfrente as questões difíceis
Não há soluções fáceis para muitos desafios sociais e ambientais nas cadeias de abastecimento alimentar. Coragem, paciência e apetite por decisões difíceis são pré-requisitos para realizar mudanças reais.
Ahrum Pak, CEO e cofundadora da WNWN Food Labs, desenvolve tecnologias na produção de chocolate sem cacau para enfrentar os desafios trabalhistas e climáticos da indústria. A oferta de cacau está cada vez mais instável e em 2023 registrou a maior alta de preços em 46 anos.
Para Pak, isso criou uma nova janela de oportunidade. Nos últimos anos, ela tem aumentado a conscientização sobre questões como o desmatamento e salários pífios pagos aos trabalhadores rurais, além de levar produtos sem cacau ao mercado. Pak se orgulha [disso] “ser visto por empresas como Mondelēz, Häagen-Dazs e Martin Braun-Gruppe como um potencial colaborador em vez de um adversário”.
Corey Scott enfrentou outra dificuldade em 2023: a produção pecuária. Anteriormente na Truterra, ela assumiu uma nova função como vice-presidente de vendas e marketing da Athian, uma plataforma baseada em nuvem que faz benchmarks, verifica e monetiza reduções de carbono nas fazendas para produtores de gado. A grande demanda da indústria por essa nova ferramenta surpreendeu Scott, que encontrou motivação para contribuir com o bem-estar econômico e ambiental dos agricultores e das comunidades em seu entorno.
Encontre parceiros improváveis
Lenta mas de forma segura, as pessoas fora da comunidade alimentar estão começando a aprender sobre o papel crítico da indústria em não apenas alimentar o mundo, mas também em administrar os ecossistemas de forma responsável e criar oportunidades econômicas valiosas. Essa crescente conscientização decorre de campanhas criativas de defesa e de parcerias não convencionais.
Arohi Sharma, vice-diretora de agricultura regenerativa do Conselho de Defesa de Recursos Naturais, liderou uma campanha inovadora de defesa, em 2023. Sua equipe fez uma parceria com Offerman, [das séries de TV] “Parks & Recreation” e “The Last of Us”, para produzir um vídeo de 1 minuto no qual Offerman “enfrenta plantas” para mostrar como as culturas de cobertura podem ajudar a combater as mudanças climáticas.
O comercial rendeu a Sharma tempo no ar [nos canais] MSNBC e CNN, em que ela defendeu por que o solo é atraente e por que a cultura de cobertura deveria receber mais apoio no Projeto de Lei Agrícola dos EUA – que o Congresso deveria renegociar no ano passado.
No nível dos sistemas alimentares globais, a presidente da Food Tank, Danielle Nierenberg, mexeu muitos pauzinhos para ganhar a atenção de políticos que decidem. “Na COP27 [em 2022], celebramos a presença de quatro pavilhões dedicados à alimentação e à agricultura – um grande passo para frente”, disse ela ao GreenBiz. “E nos últimos 12 meses, trabalhamos incansavelmente para destacar os sistemas alimentares e agrícolas como uma solução para a crise climática. Estou animada para dizer que conseguimos.”
A COP28 [em 2023] viu uma infinidade de conversas sobre sistemas alimentares e resultados tangíveis – incluindo uma declaração de sistemas alimentares assinada por 134 países e menção a alimentos no documento oficial Global Stocktake.
Nierenberg credita o sucesso desse trabalho a amplas parcerias com jornalistas, agricultores, filantropos, investidores, setor privado, ONGs e funcionários do governo: “Devemos continuar a desmantelar silos e a garantir que os sistemas alimentares sejam considerados em tudo o que fazemos”.
Destravando o poder da comunidade
Finalmente, passamos dos formuladores de políticas globais para as comunidades locais – afinal, a mudança real acontece no chão.
Na Bob’s Red Mill, a gerente de sustentabilidade Julia Person aprendeu que “nada resolve os problemas de forma melhor do que a expertise de nosso próprio pessoal”. Ela colaborou com os funcionários e aproveitou ferramentas de manufatura enxuta para reduzir os desperdícios. Depois de auditar manualmente as fontes de sucata de alimentos e embalagens, eles desenvolveram um painel automatizado de sucata em tempo real para direcionar e evitar o desperdício. Esse processo permitiu que a empresa economizasse quase 200 mil quilos de resíduos alimentares.
Laura Lee Cascada, diretora sênior de campanhas da Better Food Foundation, tentou convencer mais cidades a adotar estratégias de refeições à base de plantas – críticas para reduzir as emissões de carbono. Os hospitais da cidade de Nova York testaram com sucesso uma abordagem para servir aos pacientes refeições à base de plantas como padrão, em 2022, reduzindo assim um terço das emissões relacionadas a alimentos.
Instituições em Denver e Ann Arbor seguiram o exemplo em 2023. O Programa de Compra de Alimentos Bons também adotou plantas como padrão entre suas recomendações para as instituições que tornam suas compras de alimentos mais ecológicos.
“Este ano foi repleto de alguns becos sem saída e conversas paralisadas, me lembrando que a mudança transformacional exige muito tempo e garra”, disse ela. “Mas também consolidou o poder e a importância das comunidades no fomento de mudanças em um momento em que os líderes nacionais e internacionais ficam estagnados.”
Artigo original (em inglês) publicado por Theresa Lieb na GreenBiz.
Sobre a autora
Theresa Lieb é analista sênior de sistemas alimentares da GreenBiz, possui experiência internacional em sustentabilidade corporativa, cadeias de suprimentos, política de desenvolvimento e finanças. Já trabalhou na ONU e no Banco Alemão de Desenvolvimento, entre outros. Ela possui mestrado em Mudança e Gestão Ambiental pela Universidade de Oxford e bacharelado em Desenvolvimento Internacional e Ciência Política pela Universidade de Leiden. Twitter: @_TheresaLieb