Você sabe a quantidade de água que precisa beber por dia?
Você sabe se bebe água o suficiente?
Essa pergunta parece sugerir uma resposta direta, ou seja, uma quantidade específica de água que você precisa beber diariamente para combater a desidratação.
Contudo, não existe uma forma tão universal como você poderia esperar sobre a quantidade e a maneira como o corpo humano absorve e expele a água. Ao estudar mais de 5.000 pessoas que vivem em 23 países e com idades variando de 8 dias a 96 anos, pesquisadores descobriram que a renovação da água no corpo de uma pessoa varia muito, dependendo dos fatores físicos e ambientais do indivíduo.
Os resultados do estudo foram publicados na revista Science em novembro de 2022, sugerindo a ideia de que não é uma solução única para o pico de hidratação de cada pessoa que o consumo individual de água deva ser de oito copos de 250 ml por dia.
Mesmo dentro dos cálculos, “as variabilidades individuais podem ser enormes”, diz o engenheiro biomédico Kong Chen, diretor do programa de pesquisa metabólica do Centro Clínico do Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
Yosuke Yamada – fisiologista do Instituto Nacional de Inovação Biomédica, Saúde e Nutrição do Japão – e seus colegas usaram um isótopo estável de hidrogênio conhecido como deutério para rastrear o movimento da água no corpo das pessoas.
A água potável representa apenas metade da ingestão total de água pelos seres humanos, sendo o restante proveniente dos alimentos. Simplesmente medir a quantidade de água que uma pessoa bebe em um dia não é o suficiente para medir com precisão o volume de água ou a quantidade de água usada pelo corpo diariamente.
Os pesquisadores descobriram que a necessidade de água foi maior nos homens de 20 a 30 anos e nas mulheres de 20 a 55. Esses números variaram significativamente em função da umidade, altitude, latitude e fatores fisiológicos. Para homens e mulheres, o limite mínimo diário de água foi em média de 1 a 1,5 litros, ao passo que a média do limite máximo foi de 6 litros.
No entanto, as descobertas apresentadas no estudo não são um roteiro sobre a quantidade de água que os indivíduos em certas populações devem beber diariamente, visto que “ainda há muitos relacionamentos complexos que precisam ser resolvidos”, diz Chen. Em vez disso, os dados levantam mais questões sobre os efeitos de determinados ambientes na rotatividade de água sobre um indivíduo.
“A descoberta mais inesperada é a de que pessoas que vivem em países pobres […], ou com índices de desenvolvimento humano mais baixos, apresentam um volume maior de água”, diz Yamada.
Mesmo quando os pesquisadores fizeram um ajuste de clima, tamanho do corpo, sexo e outros fatores, as pessoas que vivem em países de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano – que, para este estudo, incluíam Gana, Quênia, Nigéria e Tanzânia) ainda apresentavam taxas de renovação de água mais altas do que aquelas que vivem em países com alto IDH, como a Bélgica, Japão e Estados Unidos. Os pesquisadores sugerem que tal disparidade pode acontecer por conta do uso frequente de aparelhos domésticos de controle climático em residências de países mais ricos.
A taxa de renovação da água também pode representar um indicador expressivo da saúde metabólica de um indivíduo. Dez por cento da água corporal total de uma pessoa é perdida diariamente para os processos metabólicos que ocorrem em nossas células. Para pessoas com menos acesso a água potável, essa perda também pode representar um “grande problema”, diz Yamada.
Mais de dois bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a água potável. De acordo com um relatório das Nações Unidas de 2018 (SN: 16/08/18), esse número deve crescer. Esperamos que a pesquisa ajude as pessoas na luta contra a desidratação diante da escassez global de água, diz Yamada.
Artigo original (em inglês) publicado por Alisson Gasparini na Science News.
Referência
Y. Yamada et al. Variation in human water turnover associated with environmental and lifestyle factors. Science. Vol. 378, November 24, 2022, p. 909. doi: 10.1126/science.abm8668.