Criptomoedas estão mudando o universo financeiro verde
Como está o seu QI sobre finanças verdes? Suas criptomoedas estão em ascensão e os títulos verdes em declínio? Qual é a diferença entre finanças sustentáveis, investimento ESG e investimento de impacto? E como está sua experiência com a Web3, blockchain e inteligência artificial? Você teve respostas para estas perguntas? E que tal NFT, DAO, DeFi, FutureFi e contratos inteligentes?
Se você ainda não sabe o que os termos acima significam, é melhor se apressar na procura pelas definições desses e de outros termos que compõem o jargão das finanças verdes. Como ouvi mais de uma vez na conferência GreenFin 22 da GreenBiz, este léxico se refere a práticas, produtos e estratégias que estão em jogo hoje – o “FutureFi” está acontecendo agora e não em uma data distante.
O principal motor da “FutureFi” [do inglês “o Futuro das Finanças”, numa tradução livre] é a criptomoeda – moeda digital que usa criptografia como blockchain [cadeia de blocos, ou banco de dados distribuído, inviolável, eficiente e não-convencional] para gerenciar transações.
“Cripto é dinheiro construído para a internet”, foi o mantra dos palestrantes no painel “O Futuro das Finanças” que participei. “É a nova linha de base para a transformação de valor”, afirmou o moderador David Bennell, diretor de sustentabilidade da Hyphen Global AG. Esta é a próxima geração de valor para gerenciar ativos, sejam armazenados ou transferidos: uma economia de token digital.
A premissa é que a digitalização torna o investimento mais eficiente, disponível para mais pessoas, com mais transparência por meio da contabilidade blockchain.
Assim como a religação da internet (transformação chamada Web3) visa descentralizar os controles do monopólio das Big Techs [gigantes de tecnologia], o mesmo ocorre com as finanças digitais. Isso resulta em finanças descentralizadas (DeFi), um termo abrangente para produtos e práticas financeiras desenvolvidos para uso com o blockchain, inclusive investimentos em finanças verdes e também itens como créditos de carbono na forma de tokens e NFTs [tokens não-fungíveis].
A DeFi também produz organizações autônomas descentralizadas (DAOs), que orientam as alocações por meio de contratos inteligentes executados por algoritmos de inteligência artificial.
Um exemplo dado por Jamie Chapman, diretor de ESG na Superlunar, foi o da Big Green, uma organização sem fins lucrativos. Originalmente, a Big Green era um projeto de horta escolar, mas que, por conta das restrições da COVID, foi convertida em uma DAO que democratiza suas doações, interrompendo a filantropia tradicional. A Big Green afirma ser a primeira DAO filantrópica e sem fins lucrativos.
O principal argumento subjacente à lógica do DeFi é a resiliência por meio de um sistema amplamente distribuído. Dito de outra forma, ele tira proveito da sabedoria das multidões em vez da orientação de um grupo pequeno e concentrado de profissionais da área financeira tradicional (como aqueles que nos trouxeram a crise financeira global em 2008-2009). As qualidades da digitalização orientada por dados e de uma maior transparência devem ampliar especialmente a capacidade dos investidores verdes de gerenciar riscos e volatilidade, maximizando os benefícios potenciais.
Desafios sobre o cenário financeiro futurista
Embora tudo isso pareça ótimo, há questões que colocam uma sombra sobre a imagem brilhante desse cenário financeiro futurista. Por exemplo, a digitalização depende de dados – logo, a julgar pelas preocupações atuais sobre a inconsistência, incompletude e não comparabilidade dos dados ESG, esse é um grande desafio.
O maior problema pode ser a própria criptografia. Criada como uma forma de lidar com o dinheiro fora dos sistemas bancários tradicionais, ela tem seus próprios problemas de transparência e precisão. As manchetes recentes estão repletas de falências, multas, hackers, fraudes, informações privilegiadas e práticas opacas no mundo das criptomoedas. A quebra das criptomoedas resultou em uma queda de US$ 2 trilhões em todo o setor desde janeiro.
Além disso, [temos que considerar] o aumento nos preços da energia e o fato de que a mineração de criptomoedas é um imenso devorador de energia. As dezenas de milhares de máquinas de computação que criam e gerenciam negociações de criptomoedas funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana.
O Bitcoin, o maior do mundo, usa cerca de 150 terawatts de eletricidade anualmente – mais do que o [consumo da] Argentina, um país de 45 milhões de habitantes. Além disso, essa produção de energia também é pesada em emissões ao liberar 65 megatons de dióxido de carbono – comparável às emissões da Grécia. Somente no Texas, os mineradores de criptomoedas podem aumentar a demanda de energia em seis gigawatts até meados do próximo ano – equivalente a adicionar à rede [um consumo igual ao de uma cidade como] Houston.
É importante lembrar que este admirável mundo novo é um trabalho em andamento e está em seus primeiros dias de vida. Muitas das questões acima – transparência, volatilidade, precisão de dados e regulamentação (ou a falta delas) – também atormentam as finanças tradicionais em qualquer negócio de investimento. E os esforços continuam na busca de soluções que possam resolver tais questões.
Se a criptomoeda deve servir fundamentalmente como a moeda do FutureFi, seus problemas devem ser abordados para que esses aspectos possam efetivamente impulsionar a inovação e permitir que as muitas variedades de produtos e serviços de investimento verde com base em criptomoedas floresçam em todo o seu potencial.
E uma coisa é certa: essa ruptura de investimento que muda o paradigma está bem encaminhada. O entusiasmo, a inteligência e o ímpeto de uma geração jovem de profissionais da área das finanças que vi na GreenFin 22 deu uma grande pista sobre o que impulsionará seu sucesso final. Não duvido de que nessa fase de desenvolvimento as lombadas redutoras de velocidade serão aplanadas. Prepare-se para uma curva de aprendizado enquanto se atualiza sobre o FutureFi, atualmente em andamento.
Artigo original (em inglês e mais amplo) publicado por John Howell na GreenBiz.
Sobre o autor
John Howell é escritor, radialista e diretor da Greenland Communications. Ele é editor de finanças da Climate & Capital Media e também presta consultoria em comunicação e estratégia de mídia para clientes privados. Howell foi cofundador, diretor editorial e chefe de liderança de pensamento da 3BL Media. E-mail: jhowell@greenlandcomms.com