O que significa “net zero” e “carbono neutro”
De uns tempos para cá temos visto na mídia empresas fazendo campanhas de marketing para convencer o público de que elas já são – ou serão – “net zero”. Este post vai explicar o que significa “net zero” e “carbono neutro”, com ênfase no primeiro, por ser a expressão mais usada na mídia.
O uso da expressão “net zero” está sendo feito de maneira generalizada e precipitada, visto que ainda não se pode afirmar categoricamente que esta ou aquela empresa é “net zero”, conforme sugerido por José Eli da Veiga, professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, em matéria publicada em seu blog.
“As empresas que continuarem a tirar proveito oportunista de engodos do tipo ‘carbono neutra’, ou ‘net zero’, além de serem auditadas por grupos independentes de especialistas, precisarão ser legalmente obrigadas a apresentar ao público um plano de contenção de suas emissões.”
José Eli da Veiga
O que significa “net zero” e “carbono neutro”?
Existe uma dúvida recorrente sobre as diferenças entre “net zero” e “carbono neutro“. Um relatório do think tank NewClimate Institute sugere que na prática ambos os termos são usados de forma permutável, embora tecnicamente possuam definições diferentes: “carbono neutro” refere-se às emissões líquidas zero somente do CO2, enquanto que “net zero” diz respeito às emissões líquidas zero de todos os gases de efeito estufa (GEEs).
A expressão “net zero” representa a quantidade de emissões de GEEs que deve ser lançada na atmosfera para que o aumento da temperatura média global fique limitado a no máximo 1,5 °C, de acordo com o que foi combinado por 196 países em 2015, durante o Acordo de Paris.
Obviamente, o ideal é que as emissões sejam zero, mas isto nem sempre será possível. Assim, emissões remanescentes terão que ser compensadas (offset) ou removidas da atmosfera, seja por ações de reflorestamento ou pela captura e armazenamento de carbono.
Uma matéria publicada recentemente mostra que na década corrente precisamos reduzir quase que pela metade as emissões de GEEs. Tal redução se faz necessária para manter o limite de aquecimento global em 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais como forma de evitar os piores impactos relacionados com as mudanças climáticas.
Principais vilões do aquecimento global
A literatura científica apresenta evidências de que atividades antropogênicas (de ação humana), como o consumo de combustíveis fósseis no transporte e na geração de energia, ou a queima de gás e carvão usados para aquecer residências e em processos industriais, contribuem de forma considerável para o aquecimento global.
De acordo com um artigo científico publicado em fevereiro de 2021, de 1970 a 2010, por exemplo, a queima de combustíveis fósseis nos transportes e em atividades industriais contribuiu com 78% para o aumento total dos GEEs.
A concentração atual de CO2 de origem antropogênica está 50% mais alta na atmosfera do que no período anterior à Revolução Industrial, diz outro artigo científico. Em maio de 2021 a concentração de CO2 quase atingiu a marca de 420PPM, segundo publicação da NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration.
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) diz em seu sexto relatório que o aumento das concentrações dos principais gases de efeito estufa já alcançaram limites preocupantes:
• 410 PPM (Partes Por Milhão) para o dióxido de carbono (CO2)
• 1866 PPB (Partes Por Bilhão) para o metano (CH4)
• 332 PPB para o óxido nitroso (N2O)
Apesar de ter um potencial de aquecimento bem menor do que o do metano, o CO2 demora muito mais tempo na atmosfera (de 100–270 anos, contra 12 anos do metano). Por este e outros motivos ele é considerado o principal vilão do aquecimento global.
De qualquer forma, o metano também é tido como um gás muito poderoso de efeito estufa. Diante do papel que exerce sobre o aquecimento global, o metano é considerado o segundo vilão dos GEEs.
Segundo publicação do Massachusetts Institute of Technology (MIT), se for considerado como base um período médio comparativo de 100 anos, o metano tem um poder para aquecer o clima de 25–28 vezes maior do que o CO2, apesar daquele ser cerca de 200 vezes menos abundante na atmosfera do que este.
Na COP 26 (conferência da ONU realizada em Glasgow, em 2021), mais de 100 países representando 70% da economia mundial prometeram reduzir até 2030 as emissões globais de metano em pelo menos 30%, conforme já publicado em outro post aqui.
Principal ingrediente do gás natural (que tem origem fóssil), o metano, formado também pela decomposição de matéria orgânica, pode ser capturado de aterros sanitários e usado para produzir eletricidade, aquecer prédios e mover caminhões de lixo, segundo a EPA, Agência de Proteção Ambiental americana.
A EPA diz que na agricultura, o metano também pode ser capturado de tanques, chamados de digestores (contendo estrume e outros resíduos oriundos dos rebanhos bovino e suíno) e, da mesma forma, ser destinado para a produção de eletricidade.
A fermentação entérica de ruminantes gera bastante metano e por isso é considerada um importante fator contribuinte para as mudanças climáticas, de acordo com um artigo científico.
Compensação e sequestro de carbono
O sequestro e armazenamento de carbono podem acontecer de forma natural, via absorção pela superfície dos oceanos, ou pelo uso de tecnologias que possam estocá-lo em formações de armazenamento geológico como, por exemplo, aquíferos salinos profundos e rochas basálticas.
Alternativamente, a retirada de carbono pode acontecer por meio de tecnologias que se encarregam de fazer sua remoção do ar, para então passar por um processo de solidificação, para depois ser enterrado. Entretanto, algumas tecnologias existentes ainda são novas, caras e passíveis de comprovação, segundo publicação da BBC.
A compensação de carbono (carbon offset) pode ser feita mediante plantio de árvores. A publicação da BBC diz que vários países já se engajaram nesta empreitada para reduzir o carbono presente no ar. Todavia, o espaço livre pode não ser suficiente para a quantidade de árvores que precisam ser plantadas, diz a publicação.
Sobre o autor | Fernando Oliveira
Fernando é o fundador e editor da Sustenare News. Ele é administrador de empresas, cientista da computação e doutor em energia pela Universidade de São Paulo (USP). Fernando morou nos Estados Unidos por dez anos, país onde cursou universidade e trabalhou por igual período para empresas de tecnologia e do ramo editorial.