Soluções inovadoras de adubo para a pecuária leiteira sustentável

Imagem de um agricultor caminhando entre vacas que estão se alimentando lado a lado nos dois lados de um curral ilustra o post que fala sobre soluções inovadoras de adubo para a pecuária leiteira sustentável.
Práticas inovadoras no manejo de esterco são uma promessa de um futuro mais verde. Imagem: cortesia de Dairy Management Incorporated/GreenBiz reprodução.
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Produtores de leite liberam o potencial ambiental do esterco e redefinem a gestão de resíduos na agricultura.

Visto que a atenção global se intensifica sobre a necessidade de ação climática, o setor agrícola está cada vez mais no centro das atenções, particularmente no que diz respeito às emissões de metano – um potente gás de efeito estufa [GEE] com impacto significativo no aquecimento global. Os líderes e cientistas mais proeminentes do mundo estão convergindo para ações imediatas e eficazes para mitigar um dos aspectos mais desafiadores das mudanças climáticas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a indústria global de laticínios é responsável por cerca de 3% das emissões de GEE. Enquanto o mundo enfrenta os desafios da sustentabilidade e das mudanças climáticas, os produtores de leite permanecem na vanguarda, inovando e se adaptando. Há muito tempo que eles são administradores da terra, com tradições profundamente enraizadas de nutrir e preservar os recursos naturais que lhes são confiados.

A indústria de laticínios dos EUA está explorando e implementando soluções promissoras em técnicas avançadas de gestão de adubo. Essas práticas inovadoras visam não apenas reduzir as emissões de metano, mas também melhorar de forma geral a sustentabilidade e a eficiência agrícola. E, como se vê, também podem fazer parte da solução climática.

Fontes de metano em fazendas leiteiras

O metano é emitido nas fazendas leiteiras de duas maneiras: o metano entérico é produzido na pança da vaca – por meio do processo de digestão – e liberado pela boca; o metano também é emitido pela decomposição do esterco bovino. Atualmente nos Estados Unidos, o estrume é responsável por cerca de um terço das emissões de GEE em uma fazenda leiteira, e reduzir essas emissões se torna possível por meio de uma variedade de tecnologias.

Todavia o esterco de vaca não é apenas um rejeito, como muitos acreditam. Quando gerenciado adequadamente, ele possui um valor notável, pois contém nutrientes valiosos, como nitrogênio, fósforo e potássio, que são necessários para o crescimento das plantações, bem como fibras que podem ter outros usos na fazenda.

No entanto, em algumas situações, é preciso armazenar ou transportar o esterco por distâncias maiores para a aplicação no campo – e isso pode apresentar desafios logísticos e ambientais. A boa notícia é que já existem tecnologias para enfrentar tais desafios.

Tecnologias transformadoras

Os digestores anaeróbicos geralmente se destacam como uma das soluções ao considerar estratégias de redução de emissões de GEE nas fazendas. Em um digestor, os micróbios decompõem o esterco da vaca e, às vezes, outros resíduos orgânicos, como os resíduos de alimentos, produzindo biogás, uma fonte de energia renovável que pode compensar o uso de combustíveis fósseis.

Em um digestor anaeróbico, o biogás pode ser produzido pela decomposição do esterco da vaca. Imagem: Freepik.

O Departamento de Agricultura americano diz que existem cerca de nove milhões de vacas leiteiras nos Estados Unidos. Em 2023, existiam 290 digestores em fazendas leiteiras em todo o país, processando esterco de 1,5 milhão de vacas.

De acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental americana (EPA), isso evita aproximadamente 7,2 milhões de toneladas métricas de [dióxido de carbono] CO2 equivalente por ano e produz cerca de 2,42 milhões de megawatts-hora (MWh) de energia equivalente.

É importante observar que os digestores exigem um investimento significativo de capital, tempo e conhecimento técnico para operar e não são compatíveis com todos os sistemas agrícolas.

A lagoa coberta de esterco com sistemas de combustão que eliminam o metano é outra tecnologia que os laticínios de portes pequeno e médio podem instalar para transformar o esterco. A tecnologia cap and flare [captura e queima] envolve cobrir as unidades de armazenamento de esterco para capturar o metano para, então, destruí-lo pela queima, impedindo sua liberação na atmosfera.

Um modelo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas foi usado para estimar o impacto da redução do metano ao cobrir o armazenamento de estrume para capturar e queimar o metano resultante.

A oportunidade potencial total de mitigação do metano a nível regional e nacional foi estimada integrando as reduções projetadas de metano com os dados do Censo de 2017 do Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas (NASS) para as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste.

Com base na análise, se 100% das operações leiteiras do Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste com até 999 vacas leiteiras adotassem essa tecnologia de cobertura e queima, a magnitude total da redução de metano seria de aproximadamente 6,4 a 11,6 milhões de toneladas métricas de CO2 equivalente por ano.

A vermicultura, também conhecida como vermicompostagem, apresenta outra opção para o manejo do esterco. Usando as capacidades naturais de digestão das minhocas, essa tecnologia permite que alguns agricultores transformem o esterco em um corretivo de solo valioso e rico em nutrientes. A vermicompostagem também pode reduzir os efeitos ambientais das águas residuais derivadas do esterco, oferecendo uma solução multifacetada para alguns produtores de leite.

Esses três exemplos oferecem um vislumbre da diversidade de estratégias que os produtores de leite estão empregando para gerenciar o esterco e reaproveitá-lo como um recurso valioso, ao mesmo tempo em que ressaltam que não existe uma solução única para todos.

Soluções de escala

O desafio que permanece para a comunidade leiteira é encontrar maneiras de tornar essas tecnologias e práticas acessíveis a todas as fazendas, independentemente de seu tamanho e/ou geografia. Em parte, é para isso que a Dairy Net Zero Initiative dos Estados Unidos foi criada – para apoiar o progresso acelerado na direção das metas ambientais do setor, avançando em pesquisa e tecnologia, pilotos na fazenda e desenvolvimento de novos mercados.

Um exemplo é o projeto Dairy Soil and Water Regeneration, no qual os pesquisadores estão medindo como diferentes práticas e tecnologias de manejo – incluindo o uso de novos produtos à base de esterco – afetam a saúde do solo e potencialmente reduzem as emissões de GEE, melhorando a qualidade da água.

No momento em que continuamos a enfrentar os desafios da agricultura sustentável e das mudanças climáticas, o papel das tecnologias inovadoras de gestão de esterco não pode ser exagerado. Essas práticas não apenas mostram a promessa de um futuro mais verde, mas também garantem a viabilidade econômica das fazendas leiteiras em todo o mundo.

Artigo original (em inglês) publicado por Lori Captain na GreenBiz.

Sobre a autora
Lori Captain é vice-presidente executiva de Estratégia Global de Sustentabilidade, Ciência e Assuntos Industriais da DMI – Dairy Management Inc. Na DMI ela é responsável por promover a visão dos laticínios dos EUA, orientar a ciência ambiental e dar suporte para a indústria cumprir as Metas de Gestão Ambiental para 2050 e apoiar os agricultores em suas jornadas ambientais.

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