Como superar a dependência dos eletrônicos e fazer um detox digital de sucesso

Imagem de uma mulher com fones de ouvido plugados em um celular junto a um laptop ilustra o post sobre como superar a dependência dos eletrônicos e fazer um detox digital de sucesso.
A sensação de estarem constantemente conectadas e produtivas tem feito as pessoas pensarem sobre a necessidade de um detox digital. Crédito: WayHomeStudio/Freepik.
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A vida no mundo digital pode ser gratificante. É conveniente fazer compras de mercado e depois passar para retirá-las, compartilhar fotos ou música e manter contato com familiares e amigos, não importa quão distantes eles estejam. No entanto, isso tudo também pode ser desgastante. A sensação de estarem constantemente conectadas e produtivas tem feito as pessoas pensarem em como moderar nesse mundo digital saturado – ou seja, como superar a dependência dos eletrônicos e fazer um detox digital de sucesso.

Mais de 70% dos americanos adultos estão preocupados sobre como a tecnologia afeta sua saúde mental e relacionamentos pessoais. Essa preocupação é reforçada pelos veículos de comunicação que apontam para os hábitos pouco saudáveis que as pessoas adotam com as mídias sociais e smart phones.

O que fazer? Existe uma linha difusa entre o consumo digital saudável e não saudável. Algumas pessoas sentem a necessidade de se desconectar totalmente do mundo digital para entender esse limite. A ideia da desintoxicação (detox) digital está ganhando popularidade. Essa prática envolve desconectar-se intencionalmente das tecnologias digitais na busca do equilíbrio e do bem-estar digital. Quase metade dos americanos relata fazer um esforço consciente para se afastar regularmente de suas telas.

Mas será que essa tentativa é suficiente? Não é surpresa alguma que 62% dos americanos confessem se sentir viciados na internet e em seus dispositivos eletrônicos. Apesar dos melhores esforços das pessoas para desconectar e encontrar um equilíbrio, pesquisas indicam que as desintoxicações digitais geralmente ficam aquém.

Sair de casa, estar com outras pessoas e se divertir são boas abordagens para se desconectar do mundo digital e evitar a epidemia da solidão. Crédito: Freepik.

O bem-estar digital é subjetivo. Pesquisamos sobre tecnologia e comportamento do consumidor. Nossa pesquisa recente estudou a jornada de detox digital, em que as pessoas fazem uma pausa muito necessária no consumo digital, com o objetivo de descobrir o que pode apoiar ou sabotar aqueles que buscam o bem-estar digital. Nossas descobertas destacaram quatro estratégias principais para melhorar o resultado dessa jornada para alcançar um equilíbrio digital mais saudável: práticas de substituição, laços sociais, atenção plena e bem-estar digital como uma jornada.

1. Encontrar práticas de substituição

Descobrimos que sentimentos de abstinência durante uma desintoxicação digital são bastante comuns. Para muitos, pegar seus telefones e rolar a tela tornou-se um ritual que muitas vezes eles não percebem que estão fazendo isso. Muitos recorrem a seus dispositivos quando estão entediados ou estressados, assim como uma chupeta para adultos. Consequentemente, encontrar uma alternativa para distrair sua mente e ocupar suas mãos pode ser crucial durante um detox digital.

Essas práticas de substituição geralmente envolvem hobbies ou atividades que resultam em brincadeiras. Quando se tornam adultas, as pessoas às vezes esquecem como é se divertir. Ao separar a diversão de sua lista de tarefas e se envolver em jogos por si só, você pode reduzir significativamente os níveis de estresse e aumentar seu bem-estar digital.

2. Reforçar os laços sociais

Os seres humanos são criaturas inerentemente sociais. De fato, ferramentas como e-mail, mensagens de texto e mídias sociais oferecem maneiras de aprimorar as conexões sociais. No entanto, esse desejo inato de conexão, combinado com a dependência das pessoas na tecnologia, pode resultar em ansiedade e sentimentos de FOMO (fear of missing out, ou o medo da perda) durante um detox digital.

Na média, os adultos agora passam 70% menos tempo com os amigos do que há duas décadas. Os aparelhos digitais possibilitam a conexão, mas faltam peças da experiência, como a alegria do contato pessoal e a confiança nos outros que podem ser difíceis de ter online. Assim, enquanto somos uma sociedade mais conectada, os relacionamentos sofrem e as pessoas estão mais solitárias do que nunca.

Portanto, durante um detox digital, é vital encher seu copo de comunidade, seja por meio de amizades já existentes ou pela criação de novas. Recomendamos que você se engaje nesse detox digital ao lado de outras pessoas, porque o FOMO pode mostrar sua cara feia se seu amigo pegar o celular durante uma saída à noite.

Veja o vídeo (em inglês) da galera fazendo uma breve desintoxicação digital no Offline Club, um Café em Amsterdam, na Holanda.

3. Enfatizar a atenção plena

No ambiente acelerado de hoje, encontrar um momento para fazer uma pausa pode parecer quase impossível. Muitos experimentam a privação da solidão, o que significa que as pessoas muitas vezes não têm momentos em que possam ficar sozinhas com seus próprios pensamentos. No entanto, a capacidade de apenas estarem pode proporcionar tempo para reflexão e ajudar você a considerar o que te faz feliz e saudável. Encontrar momentos em que você possa se afastar – e ficar na quietude e no silêncio – pode oferecer uma recarga muito necessária.

Com os adultos passando cerca de 90% do seu tempo dentro de casa, quebrar a rotina para sair um pouco pode representar uma perspectiva mais holística sobre o bem-estar pessoal e global. Em nosso estudo, ioga e meditação foram maneiras comuns pelas quais os desintoxicantes encontraram momentos para se tornarem mais conscientes de seus próprios pensamentos, o que ajudou a promover comportamentos mais intencionais.

4. Encarar o bem-estar digital como uma jornada contínua

Em última análise, o bem-estar digital é uma jornada. Não é uma lista de afazeres que, uma vez concluída, significa que você está satisfeito.

Infelizmente, uma única desintoxicação não é o suficiente para curar o desequilíbrio digital. Em vez disso, um detox bem-sucedido geralmente deixa as pessoas se sentindo introspectivas e curiosas. Os participantes de nossa pesquisa compartilharam que as recaídas são comuns, especialmente se não definirem e monitorarem metas contínuas. É importante ressaltar que suas necessidades mudam e evoluem com o tempo. Em outras palavras, o que funciona agora pode não ser o que você precisa no futuro.

A força de vontade simplesmente não é o suficiente. Recomendamos você identificar metas específicas que estejam relacionadas com o seu próprio bem-estar digital. Essas não são metas de produtividade, mas metas de improdutividade. O objetivo é se desconectar de maneiras mais gratificantes. Seja planejando uma noite de jogo semanal com amigos ou fazendo uma caminhada de 10 minutos sem o telefone, vale a pena reservar um tempo para se desconectar em longo prazo.

Os pesquisadores ainda têm mais a aprender para que possam ajudar a apoiar o bem-estar digital. Devemos lembrar, porém, que as diferenças individuais desempenham um papel crucial nessa equação, o que significa que a jornada para alcançar a harmonia digital é exclusivamente pessoal. Assim, enquanto as pessoas navegam em suas vidas saturadas de tecnologia, fica claro que encontrar o equilíbrio certo é um processo complexo e altamente individualizado.

A jornada para o detox digital pode ser desafiadora, mas muitas pessoas descobrem que é gratificante no final. As pessoas não são máquinas, no entanto, reconhecer seus limites e encontrar maneiras de se reconectar com os outros e consigo mesmas durante uma desintoxicação pode aumentar significativamente seu senso de humanidade e bem-estar digital.

Artigo original (em inglês) publicado por Kelley Cours Anderson & Karen Anne Wallach na The Conversation US.

Sobre as autoras

Kelley Cours Anderson é professora de marketing na Faculdade de Charleston, Carolina do Norte, EUA. Ela é Ph.D. pela Universidade Tecnológica do Texas e sua pesquisa oferece insights sobre o papel da tecnologia na cocriação de valor, desenvolvimento de identidade e dinâmica do sistema de mercado.

Karen Anne Wallach é professora de marketing na Universidade do Alabama, em Huntsville, EUA. Ela tem diplomas de Ph.D. e MBA pela Universidade Emory e um BSBA pela Universidade de Washington, em St. Louis. Sua pesquisa examina o comportamento do consumidor e a estratégia de marketing em tópicos que estão na interseção da responsabilidade social e do bem-estar digital.

Declaração de Transparência

Kelley Cours Anderson não recebeu financiamento para esta análise específica. Atualmente, ela presta serviços de consultoria a organizações sobre temas relacionados com o bem-estar digital, mas estas atividades não estiveram envolvidas na investigação aqui apresentada. Anderson é consultora do Unplug Collaborative e cofundadora do (Dis)Connect Collective, um grupo que presta consultoria sobre bem-estar digital.

Karen Anne Wallach presta serviços de consultoria para organizações em tópicos relacionados ao bem-estar digital, mas essas atividades não estiveram envolvidas na pesquisa apresentada aqui.

Parceria

A Faculdade de Charleston fornece financiamento como membro do The Conversation US.

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