Construir casas net zero depende de nossa compreensão e hábitos

Imagem aérea das casas do Projeto 80 ilustra o post cujo título diz que construir casas net zero depende de nossa compreensão e hábitos.
Crédito: Projeto 80, CC BY-ND.
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Quarenta por cento das emissões de gases de efeito estufa do Reino Unido vêm das residências, portanto, a construção sustentável e o funcionamento diário de nossas casas podem desempenhar um papel importante para conseguir uma sociedade de baixo carbono.

Em 2025, o governo vai apresentar o padrão de casas do futuro. É um novo regulamento que proíbe a instalação de caldeiras a gás em novas residências e toma outras medidas para garantir que haja uma redução de 80% no carbono operacional – é assim que medimos a ocupação das casas e a energia que usamos.

Eu trabalho com uma equipe de pesquisadores do Centro para Casas do Futuro, um local de pesquisa focado em como projetar, construir, comissionar e operar casas prontas para o net zero de forma mais prática e eficiente.

Nos últimos três anos, estudamos o consumo de energia em um empreendimento de 12 casas que foram construídas especificamente por uma associação habitacional chamada Midland Heart, em terrenos abandonados em Handsworth, Birmingham. Como parte de uma iniciativa chamada Projeto 80, essas casas foram projetadas para atender ao padrão proposto para futuras casas.

Casas do Projeto 80 em construção. Crédito: Projeto 80, CC BY-ND.

A transição para o net zero deve ser equilibrada com a necessidade de garantir a segurança dos edifícios, evitando o uso de materiais combustíveis, sempre que possível, após a tragédia da Grenfell Tower em Londres, em 2017.

Sensores foram instalados em cada uma das 12 casas para medir uma série de parâmetros em tempo real, como a qualidade do ar interno, o superaquecimento, as preferências de cozimento, além do desempenho de bombas de calor e armazenamento de água quente nessas novas casas, totalmente ocupadas.

Cada casa é ocupada por inquilinos de habitação social, e todos eles nos disseram que estão felizes com suas casas. Uma família não sofre de asma preexistente desde que se mudou para sua nova casa em 2022.

Nossa pesquisa pode ajudar a moldar a construção de novas casas do futuro porque os dados que coletamos fornecerão ao setor evidências reais e resultados medidos, em vez de cenários modelados. Uma boa comunicação e colaboração entre todos os envolvidos – desde profissionais da arquitetura a avaliadores de energia e fornecedores de produtos – torna muito mais fácil entregar casas de alta qualidade e eficiência energética.

A construção de todas essas casas foi feita com tijolos e blocos de origem local, não combustíveis e isolantes, por isso possuem uma alta eficiência térmica. Os edifícios são todos instalados com bombas de calor e painéis solares fotovoltaicos para que possam fornecer eletricidade renovável. As casas têm diferentes níveis de estanqueidade ao ar para nos permitir comparar e contrastar diferentes maneiras de atender ao novo padrão.

Por trás das portas fechadas

Nossa equipe completou recentemente dois anos de pesquisa, incluindo entrevistas regulares com os inquilinos, para entender melhor sobre sua experiência de morar aqui. Um relatório provisório publicado em junho de 2023 destaca a necessidade de envolver e educar os inquilinos sobre como viver em uma casa do futuro que seja mais complexa e sem gás.

As casas podem ter um desempenho muito diferente por conta da maneira como são operadas e mantidas. Ou seja, a maneira como as pessoas vivem em suas casas tem um impacto profundo no resultado. Algumas pessoas gostam de viver em altas temperaturas, outras abrem as janelas mesmo no inverno e a quantidade de cozimento varia.

Agora estamos olhando para as diferentes ocupações no primeiro empreendimento padrão, de casas do futuro, feito pela construtora de moradias populares Keepmoat, com 33 casas para alugar e vender em Nottingham. Todos os vendedores que lidam com o cliente e os moradores quando eles se mudaram tiveram informações para que pudessem entender como operar sua nova casa de forma eficaz e manter as contas de energia mais baixas possíveis.

Essas casas estão proporcionando 91% na redução de carbono. No próximo ano, obteremos mais informações sobre como os resultados ambientais dependem de como os residentes usam suas casas e consomem energia.

Nossa pesquisa mostra que é possível projetar e construir casas confortáveis, saudáveis e seguras para atender ao padrão de casas do futuro, usando materiais locais que são adaptáveis e construídos para durar mais de 150 anos.

Todavia, à medida que as casas se tornam mais complexas, a importância da manutenção regular não pode ser subestimada – o setor precisa urgentemente atrair novos trabalhadores e aprimorar as habilidades dos existentes para que possam instalar e manter a tecnologia das residências totalmente elétricas. Os moradores precisam ser consultados em todas as etapas para que estejam de acordo com a administração de uma casa com emissões líquidas iguais a zero, da maneira mais eficiente possível em termos de energia e economia.

Artigo original (em inglês) publicado por Mike Leonard na The Conversation UK.


Sobre o autor
Mike Leonard é Professor Visitante de Manufatura e Ambiente Construído, na Birmingham City University.

Declaração de Transparência

Mike Leonard não trabalha, não faz consultoria, nem possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e também não revelou nenhum vínculo relevante além do cargo acadêmico que ocupa.

A Birmingham City University fornece financiamento como membro do The Conversation UK.

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