Expectativa de vida das abelhas reduziu 50% em 50 anos

Foto de flores no campo sendo arrodeada por três abelhas para ilustrar que expectativa de vida das abelhas reduziu 50% em 50 anos. Imagem: NickyPe/Pixabay
Pesquisadores descobriram que as abelhas enjauladas estão vivendo apenas metade do tempo que viviam em condições semelhantes há 50 anos | Imagem: NickyPe/Pixabay

Uma pesquisa impressionante de entomologistas da Universidade de Maryland sugere que a expectativa de vida das abelhas reduziu 50% em 50 anos. A vida útil dessas abelhas mantidas em condições controladas de laboratório é metade do que a observada na década de 1970. Os pesquisadores levantam a hipótese de que mudanças genéticas nas abelhas podem ser responsáveis ​​pela vida mais curta.

Estudar a expectativa de vida das abelhas pode ser um desafio. Em condições do mundo real, a vida útil de uma abelha operária pode variar dependendo da dinâmica de uma colônia específica. Nossa compreensão geral da longevidade das abelhas decorre de vários estudos importantes realizados na década de 1950, com cientistas marcando as abelhas para observação antes de devolvê-las às colônias selvagens.

Aproximadamente 50 anos atrás, os cientistas começaram a realizar estudos mais controlados de abelhas, rastreando a expectativa de vida nos ambientes enjaulados de laboratório. Embora tais experimentos não se correlacionem com as experiências do mundo real, eles podem oferecer valiosos conhecimentos padrões sobre a expectativa de vida das abelhas, sem a interferência de outras variáveis ​​ambientais.

A nova pesquisa começou quando os entomologistas Anthony Nearman e Dennis van Engelsdorp conduziam um estudo de como o açúcar na água afetava a vida útil das abelhas de laboratório. Os cientistas notaram que a média da expectativa de vida das abelhas em seus estudos era metade do que foi relatado por estudos semelhantes na década de 1970.

Os pesquisadores replicaram todos os protocolos de estudos mais antigos. As pupas de abelhas foram coletadas das colmeias antes de emergirem, para depois serem mantidas enjauladas sob condições semelhantes às das abelhas adultas. Mas as abelhas modernas viviam apenas 17,7 dias em média quando comparadas com a expectativa de vida de 34,3 dias, conforme relato de estudos mais antigos.

“Quando planejei a expectativa de vida ao longo do tempo, percebi que na verdade existe um enorme efeito de tempo acontecendo”, disse Nearman. “Protocolos padronizados para a criação de abelhas em laboratório não foram realmente formalizados até os anos 2000, então você pensaria que a expectativa de vida seria mais longa ou inalterada, porque estamos melhorando nisso, certo?”, perguntou ele. “Em vez disso, vimos uma duplicação da taxa de mortalidade”, concluiu.

Os pesquisadores indicam que há um corpo de estudo recente sugerindo que a expectativa de vida das abelhas diminuiu nas últimas décadas. No entanto, essa pesquisa se concentrou principalmente nas condições do mundo real, abrangendo estressores ambientais, como doenças e exposição a pesticidas. Esta nova pesquisa é a primeira a eliminar todas essas variáveis ​​e sugerir que pode haver um declínio no tempo de vida das abelhas independentemente de fatores ambientais.

Foto: Cortesia BusinessHelper/Pixabay

“Estamos isolando as abelhas da vida da colônia pouco antes de elas emergirem como adultas, então o que quer que esteja reduzindo sua expectativa de vida está acontecendo antes desse ponto”, disse Nearman. “Isso introduz a ideia de um componente genético. Se esta hipótese estiver certa, ela também aponta para uma possível solução. Se pudermos isolar alguns fatores genéticos, talvez possamos criar abelhas com vidas mais longas”.

O biólogo da Universidade de Sussex, Dave Goulson, chamou esse novo estudo de “fascinante“, mas aponta uma série de ressalvas que tornam suas conclusões longe de serem definitivas. Ele sugere que comparar experimentos atuais com dados históricos de até 50 anos atrás é difícil, pois não há garantia de que as condições de laboratório sejam semelhantes entre essas eras díspares. Goulson também especula que os possíveis pesticidas tenham se infiltrado no pólen que alimenta as larvas, afetando desde o início a expectativa de vida das abelhas.

No entanto, Goulson indica que esses resultados precisam ser levados a sério porque, se estiverem corretos, “algo realmente preocupante está acontecendo”. Ele observa que exemplos semelhantes de seleção natural favorecendo uma expectativa de vida mais curta podem estar ocorrendo em outras espécies.

“A seleção artificial (por apicultores) ou natural pode favorecer abelhas com expectativa de vida mais curta”, escreve Goulson para a The Conversation.

“Os cientistas estão vendo isso acontecer em outras espécies. Por exemplo, o bacalhau agora chega à fase adulta mais cedo e apresentando tamanhos menores porque a pesca excessiva significa que os peixes raramente sobrevivem o suficiente para crescer. Talvez estressores no mundo moderno, como pesticidas e doenças, signifiquem que as abelhas raramente sobrevivem por muito tempo. Portanto, sua evolução pode favorecer um estilo ‘viva rápido e morra jovem'”.

Dave Goulson, Biólogo da Universidade de Sussex

Nearman e van Engelsdorp estão muito cientes de que ainda é incrivelmente especulativa a sua hipótese sobre as abelhas estarem experimentando uma expectativa de vida mais curta por conta de mudanças genéticas. É até possível que os apicultores simplesmente tenham, de maneira inadvertida, favorecido colônias com expectativa de vida mais curta devido a uma percepção de melhor saúde.

Portanto, o próximo passo para os pesquisadores é ampliar seu escopo e observar a expectativa de vida das abelhas em diferentes regiões geográficas. Se eles ainda detectarem padrões consistentes de diminuição da longevidade, os estudos genéticos podem tentar descobrir exatamente o que está acontecendo.

Fonte: Scientific Reports.

Artigo original (em inglês) publicado por Rich Haridy na New Atlas.

Sobre o autor
Rich Haridy está sediado em Melbourne (Austrália) e na última década escreveu várias publicações online e impressas, enquanto também atuou como crítico de cinema para várias emissoras de rádio e podcasts. Ele foi presidente da Associação Australiana de Críticos de Cinema por dois anos (2013-2015), concluiu um mestrado na Universidade de Melbourne e se juntou à equipe do New Atlas há três anos.

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