O que fazer se a procrastinação afetar sua saúde

Foto de uma mulher jovem sentada na janela de uma casa, com olhar distante para o verde do lado de fora, ilustra o post sobre o que fazer se a procrastinação afetar sua saúde.
Os cientistas estimam que cerca de 20% dos adultos são procrastinadores crônicos. Um pouco de autocompaixão pode ajudar. Foto: Jerzy Górecki/Pixabay.

A procrastinação significa “deixar para depois o que você sabe que deveria estar fazendo agora”, mesmo que seja ruim, diz o psicólogo Piers Steel, da Universidade de Calgary, no Canadá. Porém, todas essas tarefas adiadas para amanhã parecem se fixar em sua mente – e podem te prejudicar. Mas o que fazer se a procrastinação afetar sua saúde? Continue lendo para entender.

Os piores procrastinadores provavelmente não conseguirão ler esta história porque isso os lembrará do que estão tentando evitar, diz Steel. Talvez eles estejam se arrastando para ir à academia, ou não tenham cumprido as resoluções que fizeram no Ano Novo. Talvez eles estejam esperando por apenas mais um dia para estudar para aquela prova.

Em um estudo envolvendo milhares de alunos universitários, os cientistas ligaram a procrastinação a um conjunto de resultados ruins, incluindo a depressão, ansiedade e até dores paralisantes no braço. “Fiquei surpreso quando vi isso”, diz Fred Johansson, psicólogo clínico da Universidade Sophiahemmet, em Estocolmo. Sua equipe relatou os resultados do estudo em janeiro desse ano, na JAMA Network Open [revista médica mensal, publicada pela Associação Americana de Medicina].

Até o momento, esse é um dos maiores estudos a abordar a ligação da procrastinação com a saúde humana. Seus resultados repetem descobertas de estudos anteriores que foram amplamente ignorados, diz Fuschia Sirois, uma cientista comportamental da Universidade de Durham – que não participou dessa nova pesquisa.

Por anos, os cientistas não pareciam ver a procrastinação como algo sério, diz ela. O novo estudo pode mudar isso. “É esse tipo de respingo que vai chamar a atenção”, diz Sirois. “Espero que isso aumente a conscientização sobre as consequências da procrastinação para a saúde física.”


Os perigos de procrastinar
Em um novo estudo, cientistas vincularam a procrastinação a uma série de problemas de saúde e outros resultados negativos, incluindo:
• Depressão
• Ansiedade
• Estresse
• Dor paralisante no braço
• Má qualidade do sono
• Sedentarismo
• Solidão
• Dificuldade financeira
FONTE: F. Johansson et al. Jama Network Open 2023


Procrastinar pode ser ruim para a mente e o corpo

[O debate sobre] se a procrastinação prejudica a saúde pode parecer uma situação do ovo e da galinha.

É difícil dizer se certos problemas de saúde tornam as pessoas mais propensas a procrastinar – ou se acontece o contrário, diz Johansson. (Pode ser um pouco dos dois.) E os experimentos controlados sobre procrastinação não são fáceis de fazer: você não pode simplesmente dizer a um participante do estudo para se tornar um procrastinador e esperar para ver se sua saúde muda, diz ele.

Muitos estudos anteriores se basearam em pesquisas auto relatadas, realizadas em um único momento. Mas uma particularidade de alguém torna difícil separar a causa do efeito. Em vez disso, um novo estudo acompanhou cerca de 3.500 alunos pelo período de nove meses para que os pesquisadores pudessem rastrear se os procrastinadores desenvolveram problemas de saúde posteriores.

Johansson e colegas descobriram que esses alunos, em média, tendiam a se sair pior ao longo do tempo do que seus colegas mais rápidos. Eles estavam um pouco mais estressados, ansiosos, deprimidos e com déficit de sono, entre outros problemas.

Procrastinar tarefas pode ser ruim para a mente e para o corpo. Foto: Kyle Broad/Unsplash.

“Para início de conversa, as pessoas que pontuam mais em procrastinação […] correm maior risco de desenvolver problemas físicos e psicológicos mais tarde“, diz Alexander Rozental, coautor do estudo e psicólogo clínico da Universidade de Uppsala, na Suécia. “Existe uma relação entre a procrastinação de um determinado momento com os resultados negativos de um momento posterior.”

Como o estudo foi baseado na observação, a equipe não pode dizer com certeza que a procrastinação causa problemas de saúde. No entanto, os resultados de outros pesquisadores também parecem apontar nessa direção. Um estudo de 2021 vinculou a procrastinação (na hora de dormir) com a depressão. E um estudo de 2015 do laboratório de Sirois vinculou a procrastinação a problemas de saúde do coração.

O estresse pode ser o culpado pelos efeitos nocivos da procrastinação, é o que sugerem os dados do laboratório de Sirois e outros estudos. Ela acha que os efeitos da procrastinação crônica podem aumentar com o tempo. E embora a procrastinação por si só não cause doenças, diz Sirois, ela pode representar “um fator extra no sentido de fazer a balança pender para esse lado”.

Não, procrastinadores não são preguiçosos

Estima-se que cerca de 20% das pessoas adultas sejam procrastinadoras crônicas. Todo mundo pode adiar uma ou duas tarefas, mas os procrastinadores crônicos fazem disso um estilo de vida, diz Joseph Ferrari, psicólogo da Universidade DePaul, em Chicago, que estuda a procrastinação há décadas. “Eles fazem isso em casa, na escola, no trabalho e em seus relacionamentos.” Essas são as pessoas que “você sabe que vão te responder depois do prazo estipulado, diz ele”.

Embora os procrastinadores possam pensar que apresentam melhor desempenho sob pressão, Ferrari relatou o contrário. Na verdade, eles trabalharam mais devagar e cometeram mais erros do que os não procrastinadores, seus experimentos sugerem. E quando os prazos são flexíveis, os procrastinadores tendem a deixar seu trabalho de lado, relatou a equipe de Steel no ano passado, na revista Frontiers in Psychology.

Durante anos, os pesquisadores têm se concentrado nas personalidades das pessoas que procrastinam. As descobertas variam, mas alguns cientistas sugerem que os procrastinadores podem ser impulsivos, preocupados e ter problemas para regular suas emoções. Entretanto, enfatiza Ferrari, uma coisa que os procrastinadores não são é preguiçosos. Na verdade, eles estão “muito ocupados fazendo outras coisas além do que deveriam estar fazendo”, diz ele.

De fato, acrescenta Rozental, a maioria das pesquisas atuais sugere que a procrastinação é um padrão comportamental. E se a procrastinação é um comportamento, diz ele, isso significa algo que você pode mudar, independentemente de se você é uma pessoa impulsiva.

Circunstâncias estressantes podem prejudicar a capacidade das pessoas de agir – e facilitar a procrastinação. Foto: Gerd Altmann/Pixabay.

Por que os procrastinadores deveriam ser gentis consigo mesmos

Quando as pessoas adiam uma tarefa difícil, elas se sentem bem – no momento.

Procrastinar é uma forma de contornar as emoções negativas ligadas à tarefa, diz Sirois. “Somos programados para evitar qualquer coisa dolorosa ou difícil. Quando você procrastina, obtém alívio imediato”, diz ela. Um cenário de circunstâncias estressantes – digamos, uma pandemia mundial – pode prejudicar a capacidade das pessoas de lidar com isso, tornando a procrastinação ainda mais fácil. Mas o alívio que ela proporciona é apenas passageiro – e muitos procuram maneiras de parar de postergar.

Os pesquisadores têm tentado tratamentos para a procrastinação que vão do logístico ao psicológico. O que funciona melhor ainda está sob investigação. Alguns cientistas relataram sucesso com intervenções de gestão do tempo. Mas a evidência para isso “está em todo o mapa”, diz Sirois. Isso porque “a má gestão do tempo é um sintoma, não uma causa de procrastinação”, acrescenta ela.

Para alguns procrastinadores, dicas aparentemente óbvias podem funcionar. Em sua prática clínica, Rozental aconselha os alunos a simplesmente largar o smartphone. Silenciar as notificações ou estudar na biblioteca em vez de em casa pode evitar as distrações e manter as pessoas concentradas. Mas isso não será suficiente para muitas pessoas, diz ele.

Procrastinadores radicais podem se beneficiar da terapia cognitivo-comportamental. Em uma revisão de tratamentos de procrastinação de 2018, Rozental descobriu que esse tipo de terapia – que envolve o gerenciamento de pensamentos e emoções e a tentativa de mudar o comportamento – parecia ser o mais útil. Mesmo assim, poucos estudos examinaram os tratamentos e há espaço para melhorias, diz ele.

Praticar o foco no corpo por meio da meditação ajuda a enfrentar atividades desagradáveis. Foto: Laura Juarez/Pixabay.

Sirois também favorece uma abordagem centrada na emoção. Os procrastinadores podem cair em uma espiral de vergonha em que se sentem desconfortáveis com uma tarefa, adiam a tarefa, sentem vergonha por adiá-la e depois se sentem ainda pior do que quando começaram. As pessoas precisam abreviar esse loop, diz ela. O auto perdão pode ajudar, sugeriram cientistas em um estudo de 2020. Assim como o treinamento de atenção plena (mindfulness).

Em um pequeno teste com alunos universitários, oito sessões semanais de mindfulness reduziram a procrastinação, relataram Sirois e seus colegas no periódico acadêmico Learning and Individual Differences de janeiro. Os alunos praticaram o foco no corpo, meditando durante atividades desagradáveis e discutiram sobre a melhor forma de cuidar de si mesmos. Um pouco de autocompaixão pode tirar as pessoas de sua espiral, diz Sirois.

“Você cometeu um erro e procrastinou? Não é o fim do mundo”, diz ela. “O que você pode fazer para seguir em frente?”

Uma versão deste artigo aparece na edição de 25/02/2023 da Science News.

Artigo original (em inglês) publicado por Meghan Rosen na Science News.

Referências

F. Johansson et al. Associations between procrastination and subsequent health outcomes among university students in Sweden. JAMA Network Open. Published online January 4, 2023. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2022.49346.

H.S. Rad et al. Mindfulness intervention for academic procrastination: A randomized control trial. Learning and Individual Differences. Vol. 101, January 2023. doi: 10.1016/j.lindif.2022.102244.

P. Steel et al. Self-regulation of slippery deadlines: The role of procrastination in work performance. Frontiers in Psychology. Vol. 12, January 6, 2022, p. 783789. doi: 10.3389/fpsyg.2021.783789.

G. Cui et al. Longitudinal relationships among problematic mobile phone use, bedtime procrastination, sleep quality and depressive symptoms in Chinese college students: a cross-lagged panel analysis. BMC Psychiatry. Vol. 21, September 10, 2021, p. 449. doi: 10.1186/s12888-021-03451-4.

L. Martinčeková and R.D. Enright. The effects of self-forgiveness and shame-proneness on procrastination: exploring the mediating role of affect. Current Psychology. Vol. 39, April 2020, p. 428. doi: 10.1007/s12144-018-9926-3.

A. Rozental et al. Targeting procrastination using psychological treatments: A systematic review and meta-analysis. Frontiers in Psychology. Vol. 9, August 30, 2018, p. 1588. doi: 10.3389/fpsyg.2018.01588.

F.M. Sirois. Is procrastination a vulnerability factor for hypertension and cardiovascular disease? Testing an extension of the procrastination–health model. Journal of Behavioral Medicine. Vol. 38, June 2015, p. 578. doi: 10.1007/s10865-015-9629-2.

J.R. Ferrari. Procrastination as self-regulation failure of performance: effects of cognitive load, self-awareness, and time limits on ‘working best under pressure.’ European Journal of Personality. Vol. 15, September/October 2001, p. 391. doi: 10.1002/per.413.

Sobre a autora
Meghan Rosen integra a equipe da Science News que faz reportagens sobre ciências da vida. Ela é Ph.D. em bioquímica e biologia molecular com ênfase em biotecnologia pela Universidade da Califórnia (em Davis). Ela também tem pós-graduação em comunicação científica pela Universidade da Califórnia (em Santa Cruz).
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