Por que não estamos escutando o que a ciência está nos dizendo?

Imagem artística de uma cidade parcialmente desértica, sugerindo por que não estamos escutando o que a ciência está nos dizendo sobre as mudanças climáticas
Foto: Pixabay

Nos últimos 170 anos, a ciência do clima evoluiu desde uma coleção de observações e hipóteses para o mais próximo que chegamos de uma bola de cristal, revelando o que está por vir para a Terra e para aqueles que moram aqui.

Na reportagem de capa desta edição, a correspondente colaboradora Alexandra Witze detalha a notável história dos esforços dos cientistas para aprender como o aumento da quantidade de dióxido de carbono na atmosfera da Terra pode afetar nosso planeta.

É uma saga que começa na década de 1850, quando Eunice Newton Foote, ativista dos direitos das mulheres e cientista amadora, desenvolveu um experimento mostrando que o dióxido de carbono aquece mais rapidamente do que o ar normal.

Como tantas vezes acontece na ciência, outras pessoas estavam fazendo perguntas semelhantes sobre o planeta, clima e calor. Mas como os sistemas climáticos do nosso planeta são surpreendentemente intrincados, essas não são perguntas fáceis de responder.

Foi só a partir de 1938 que a queima de combustíveis fósseis foi atrelada ao aumento das temperaturas em todo o mundo, e só a partir do final da década de 1950 que os cientistas mostraram que o dióxido de carbono atmosférico estava aumentando e que as atividades humanas, incluindo a queima de combustíveis fósseis e mudanças no uso da terra, eram as culpadas.

Agora, o campo relativamente novo da ciência de atribuição está nos mostrando como as mudanças climáticas estão alimentando o clima extremo, incluindo a onda de calor extremo de 2021 no oeste da América do Norte. Mas, como observa Witze, os líderes governamentais e empresariais em todo o mundo têm largamente fracassado em agir para evitar consequências ainda mais extremas.

Há boas razões para ficar furiosa com as empresas de combustíveis fósseis e os políticos que investiram grandes esforços para negar a legitimidade da ciência climática, atrasando assim os esforços coordenados necessários para salvaguardar nosso futuro na Terra. Mas poucos de nós são inocentes.

Minha vida está entrelaçada com os combustíveis fósseis, desde o fogão a gás que usei para fazer uma xícara de chá, ao avião que pegarei para visitar meu pai na próxima semana. Sua vida, eu percebo, reflete um século de mudança. Quando criança, em uma cidade carbonífera da Pensilvânia, ele viajava a cavalo e carroça e lia à luz de lampiões de querosene. Ele pegou ônibus para a faculdade, foi despachado para o Sul do Pacífico na Segunda Guerra Mundial e depois voou pelo mundo a negócios e lazer. Agora aposentado no Oregon, teve que evacuar de sua cidade por conta de incêndios florestais; e no verão passado, sofreu com o calor infernal de 115° Fahrenheit [46 °C].

Há milênios os humanos vêm adaptando engenhosamente os combustíveis fósseis. Os tijolos nos zigurates da Mesopotâmia foram assentados com betume de vazamentos de petróleo, e as pessoas na China estavam perfurando poços de petróleo no século IV. É hora de aplicar a mesma engenhosidade, diligência e atenção para inventar um mundo onde possamos florescer sem ter que depender da queima de combustíveis fósseis.

No mês passado recebemos uma carta de Nico Santin, de 14 anos. Ele havia lido um artigo na Science News sobre como as aves marinhas são ameaçadas pelas ondas de calor do oceano (SN: 2/26/22, p. 15). Nico mora no Havaí e escreve com eloquência sobre como as aves marinhas são essenciais para sua ilha natal. “A maioria das plantas nativas do Havaí não estaria lá sem a ajuda dos pássaros”, escreve ele. “Seria devastador se as aves marinhas nativas do Havaí morressem de fome e possivelmente fossem extintas por causa do aumento das temperaturas”. É hora de todos nós, diz ele, tomar medidas práticas para garantir que isso não aconteça. Estou com Nico.

Artigo original (em inglês) publicado por Nancy Shute na ScienceNews.


Sobre a autora
Nancy Shute é redatora-chefe da Science News Media Group. Antes, ela foi uma editora na NPR e US News & World Report e colaboradora da National Geographic e da Scientific American. Ela também foi presidente da National Association of Science Writers. E-mail: editors@sciencenews.org | Twitter/X:
@nancyshute

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