Tecnologia faz CO2 sugado do ar virar rocha
A captura de dióxido de carbono (CO2) pode acontecer tanto de forma natural – quando ele é absorvido pela superfície dos oceanos – ou por meio do uso de tecnologias que possam capturá-lo do ar e estocá-lo, geralmente em formações de armazenamento geológico, como aquíferos salinos profundos e rochas basálticas. Uma das formas de sequestro de carbono se dá pela captura direta do ar (ou DAC, da sigla em inglês). Desenvolvida em 2007 por Christoph Gebald e Jan Wurzbacher, dois ex-colegas de engenharia e PhDs pela universidade ETH Zürich, a tecnologia faz o CO2 sugado do ar virar rocha.
A DAC é fruto do esforço destes engenheiros mecânicos a partir de observações próprias dos efeitos que as mudanças climáticas exerciam sobre os Alpes Suíços, local em que ambos costumavam visitar para a prática de esportes. Chocados pela constatação do encolhimento das geleiras locais, eles decidiram juntar forças para fazer algo que pudesse servir de ajuda no combate às mudanças climáticas.
Em 2009, os dois fundam a Climeworks, startup baseada na Suíça. Considerada a líder na captura e armazenamento de dióxido de carbono, no final de 2021 a Climeworks inaugura a Orca.
Maior fábrica do mundo para a captura e armazenamento de CO2, a Orca tem capacidade para sugar aproximadamente quatro mil toneladas de dióxido de carbono por ano – o que representa apenas uma pequena fração dos bilhões de toneladas que o mundo precisa eliminar anualmente até 2050, conforme publicado pela Brighter Side of News (link da publicação no final do texto).
Localizada no sudeste da Islândia, a Orca é fruto de uma parceria entre a Climeworks e duas empresas islandesas: Carbfix e ON Power – a primeira é vista como pioneira no armazenamento de carbono no subterrâneo, enquanto que a segunda é uma provedora local de eletricidade geotérmica, diz a publicação.
Como o CO2 sugado do ar vira rocha
Segundo a publicação, ventiladores posicionados na frente do coletor aspiram o ar ambiente e, por meio de ventiladores posicionados na parte de trás, liberam o CO2 purificado. Depois de cheio, o filtro é fechado e o gás puro é separado após aquecido a temperaturas de 100 °C. Na sala de processo, o gás é tratado para se livrar de impurezas e depois enviado por tubulações subterrâneas a uma distância de 3 km, para então emergir dentro de cúpulas em formato de iglu, onde ele é dissolvido em água doce.
Sob alta pressão, o gás é injetado numa rocha basáltica cuja profundidade pode atingir até 2 km. Após a solução preencher as cavidades da rocha, o processo de solidificação do CO2 começa a partir da reação química que o transforma em cristais brancos calcificados no momento em que entra em contato com o cálcio, magnésio e ferro no basalto.
A transformação do carbono em rocha levaria centenas de milhares de anos pelo processo natural, mas pelo método da Carbfix, em formato acelerado, pode durar apenas dois anos, diz a publicação. Entretanto, o custo para transformar o CO2 em rocha é alto, visto que as tecnologias atuais ainda estão na fase inicial.
Quanto custa transformar o CO2 em rocha
De acordo com a Brighter Side of News, o processo de sequestro e armazenamento de dióxido de carbono da Climeworks não visa capturar as emissões imediatamente na fonte, como as emitidas por carros, aviões e navios, mas o CO2 que já está presente na atmosfera.
Dessa forma, a Orca processa um volume muito grande de ar (dois milhões de metros cúbicos) para capturar uma fração muito pequena de CO2 (uma tonelada), o que representa a parcela ínfima de 0,041% da concentração global de CO2. Todo este processo se torna dispendioso em função da grande quantidade de energia exigida, diz a publicação.
Por ser um país que possui água em abundância e 70% da matriz energética oriundas de fontes renováveis (geotérmicas), a Islândia torna-se o lugar ideal para o uso da tecnologia DAC, e por isso o país foi escolhido para o projeto piloto da Climeworks. Assim, diante dos altos custos que o processo representa, o mesmo não seria viável em países cujas matrizes energéticas são oriundas de fontes fósseis e mais caras, porque os custos da tecnologia DAC ficariam mais caros ainda.
Fonte: Brighter Side of News
Sobre o autor | Fernando Oliveira
Fernando é o fundador e editor da Sustenare News. Ele é administrador de empresas, cientista da computação e doutor em energia pela Universidade de São Paulo (USP). Fernando morou nos Estados Unidos por dez anos, país onde cursou universidade e trabalhou por igual período para empresas de tecnologia e do ramo editorial.