Proteção da biodiversidade requer mudança no sistema alimentar

Foto de uma mulher de pé em frente a uma plantação com um pôr do sol ao fundo para ilustrar que a proteção da biodiversidade requer mudança no sistema alimentar. Foto: James Morgan/WWF-US/Reprodução
Foto: James Morgan/WWF-US/Reprodução

Se quisermos que nosso planeta alcance as metas ambiciosas que foram traçadas para o clima, a natureza e as pessoas, será fundamental haver uma transformação de nossos sistemas alimentares. Logo, a forma como produzimos e consumimos alimentos determinará o futuro da humanidade.

A ciência afirma claramente que a produção agrícola é responsável por mais de um quarto das emissões de gases de efeito estufa e se constitui no principal fator global para a perda da biodiversidade, bem como para a degradação do solo e da água.

É por nossa própria conta e risco que negligenciamos esses impactos, visto que a produção de alimentos para as gerações futuras depende de nossas ações no presente que possam garantir ecossistemas saudáveis e um clima estável. Embora as crises climáticas e a perda de biodiversidade sejam inseparáveis, as soluções também o são – e é justamente aqui que a agricultura tem um papel crítico a desempenhar.

Sabemos o que fazer e precisamos de líderes para tomar medidas urgentes. Devemos avançar uma agenda ambiciosa que requer mudança no sistema alimentar para a proteção da biodiversidade e que inclui produção, consumo e redução de nosso desperdício em todas as etapas intermediárias.

Agricultura como parte da solução

A agricultura é o único setor que tem potencial para fazer parte da solução para o clima e a natureza, embora não exista solução única. Assim, devemos adotar uma abordagem holística de sistemas alimentares e trabalhar juntos para:

  • Acabar com o desmatamento e a conversão de habitats naturais causados pela agricultura baseada em commodities;
  • Mudar para sistemas de produção mais regenerativos e resilientes;
  • Promover dietas baseadas na biodiversidade agrícola e que sejam saudáveis e sustentáveis;
  • Conduzir sistemas alimentares mais circulares que eliminem a perda e o desperdício de alimentos nas cadeias globais e locais de abastecimento.
O desperdício de comida ainda é muito alto no mundo.
Foto: Foerster/Wikimedia Commons CC0
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Além disso, também devemos garantir uma transição justa e equitativa, apoiando os produtores que estão na linha de frente dos impactos das mudanças climáticas e que são os mais vulneráveis, especialmente os povos indígenas, comunidades locais, pequenos agricultores, mulheres e jovens. É imprescindível fortalecer suas capacidades de resiliência, adaptação e risco, além de garantir que os recursos fluam diretamente para que suas necessidades e restrições no terreno possam ser atendidas.

A notícia empolgante aqui é que não precisamos desenvolver novas tecnologias para aproveitar o poder da natureza, pois já estão disponíveis as soluções de que precisamos. No entanto, devemos defender a verdade de que os ecossistemas e sistemas de produção são mais valiosos quando são conservados e geridos de forma sustentável do que quando são destruídos. Isso é tão simples!

As oportunidades para agir urgentemente nos sistemas alimentares não podem continuar a passar despercebidas. A COP27 das Nações Unidas [no Egito] acabou de ser concluída, mas o ímpeto estagnou no Grupo de Trabalho Conjunto de Koronivia sobre Agricultura, essencial para manter a alimentação e a agricultura incluídas na agenda climática dos Estados membros.

No momento em que a COP15 já começou em Montreal, devemos elevar a transformação dos sistemas alimentares no Global Biodiversity Framework. Uma estrutura bem-sucedida incluiria um plano para reduzir pela metade a pegada de produção e consumo até 2030, com metas para todos os setores que impulsionam a perda da natureza, especialmente as áreas de alimentos e agricultura.

Esse plano deve ter um mecanismo de implantação forte e eficaz, incluindo um método para aumentar a ação ao longo do tempo. Postergar futuras conferências sobre políticas globais ameaça fechar nossa janela de oportunidade para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius e a perda acelerada da biodiversidade.

É possível alimentar o mundo com alimentos saudáveis e nutritivos e que celebrem a cultura e a diversidade do planeta, mas devemos fazê-lo de maneira que conserve e proteja o nosso planeta. Esta é a única maneira de continuarmos a alimentar e sustentar futuras gerações, pois não existe Planeta B.

Artigo original (em inglês) publicado por Melissa Ho no World Wildlife Fund (WWF).


Sobre a autora
Melissa Ho é Vice-Presidente Sênior na WWF e tem mais de 20 anos de experiência como cientista, consultora de políticas e profissional de desenvolvimento. Ela adota uma abordagem sistêmica para lidar com as duas maiores ameaças à natureza e ao clima: agricultura e infraestrutura.

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