A importância dos princípios ESG para o mundo corporativo
A incorporação de fatores ambientais, sociais e de governança, variáveis que coletivamente são chamadas de riscos ESG (do inglês Environmental, Social, Governance), tem se tornado uma prática cada vez mais relevante para as empresas. Esse conjunto de critérios busca promover a sustentabilidade, a ética e a criação de valor no longo prazo. Continue lendo para entender a importância dos princípios ESG para o mundo corporativo.
A história do ESG remonta aos anos de 1970, quando surgiram os primeiros esforços voltados para o investimento socialmente responsável (ISR), a partir do qual os investidores buscaram alinhar investimentos com princípios éticos, cuja premissa excluía empresas que se envolviam em práticas controversas. No entanto, somente a partir dos anos 2000 foi que o conceito ESG começou a se destacar e se expandir para além da exclusão de empresas com práticas negativas.
Na nova abordagem ESG, além de os investidores reconhecerem que era importante evitar investimentos nas empresas com práticas negativas, eles sentiam que era preciso também valorizar as práticas positivas – relacionadas ao meio ambiente, às questões sociais e também à governança corporativa. A partir deste momento, houve a necessidade de se criar princípios e estruturas que pudessem ser integrados aos fatores ESG nas decisões de investimento.
Nesse sentido, um marco importante foi o lançamento do UNGC (United Nations Global Compact, ou Pacto Global das Nações Unidas) no ano 2000. O UNGC encorajou as empresas a adotarem políticas sociais e de sustentabilidade, estabelecendo um conjunto de princípios relacionados ao meio ambiente, direitos humanos, normas trabalhistas e de combate à corrupção. A influência desse pacto foi crucial na promoção da responsabilidade corporativa e na integração de preceitos que hoje norteiam o ESG.
Além do UNGC, os Princípios para o Investimento Responsável (ou PRI, do inglês Principles for Responsible Investment) é uma iniciativa relevante que foi estabelecida em 2006 por um grupo de investidores institucionais, sob a tutela da ONU. Os signatários do PRI se comprometeram a incorporar fatores ESG em seus investimentos e a incentivar empresas a adotarem práticas empresariais éticas e corretas. Esse compromisso ajudou a aumentar a importância do ESG no mundo dos negócios e a impulsionar a integração de seus critérios na comunidade de investidores.
O relatório anual do Bank of America de 2019 diz que naquele ano, por exemplo, em torno de 600 conferências foram programadas para acontecer somente nos Estados Unidos para discutir ESG, sustentabilidade e modelos de negócios e finanças sustentáveis.
Um artigo da Bloomberg Brasil cita que nos últimos cinco anos a emissão de produtos atrelados ao ESG passou de zero para cerca de US$ 15 bilhões, por conta de investidores que queriam estar vinculados a tais práticas. “Este aumento acentuado reflete uma tendência mais ampla: houve mais de US$ 35 trilhões de ativos ESG [administrados] em 2020, um número que a Bloomberg Intelligence estima exceder US$50 trilhões até 2025”, diz o estudo.
Assim, ao longo dos anos, a relevância do ESG ganhou aceitação generalizada e a relação entre seus fatores e desempenho financeiro tornou-se mais evidente. Empresas com fortes perfis ESG tendem a superar seus concorrentes no longo prazo e despertar o interesse por seus produtos e serviços, é o que indicam alguns estudos e pesquisas de mercado.
Diante dessa percepção, os gestores de ativos e investidores institucionais começaram a aplicar o conceito ESG em seus processos de investimento, de forma a estimular o engajamento com as empresas, promover mudanças positivas e incorporar as métricas ESG em suas análises financeiras.
Em retrospecto, a integração de fatores ESG não se limita mais a uma abordagem periférica ou exclusiva, mas tornou-se um componente essencial para a análise e a gestão de investimentos. A ascensão dos princípios ESG no mundo corporativo representa uma transformação significativa no campo dos investimentos e uma mudança de paradigma na direção de práticas mais sustentáveis e responsáveis.
Por outro lado, é importante ressaltar que o progresso em direção a um sistema mais sustentável ainda enfrenta desafios. A falta de transparência em certos setores e a necessidade contínua de se promover a educação ambiental e a conscientização das necessidades sociais são questões que precisam ser abordadas de forma mais enfática para que o ESG alcance seu pleno potencial.
Outro ponto importe é descobrir os trade-offs quanto ao uso do ESG em sua empresa. Por exemplo, um artigo da Harvard Business Review (HBR), de 2022, diz que se uma empresa se concentrar demais em ESG, pode ter dificuldades para competir com empresas oriundas de países que apresentam padrões menos rigorosos, como é o caso da China.
Por outro lado, se essa empresa não focar o suficiente no ESG, corre o risco de ficar para trás no mercado, perdendo o apoio de funcionários, clientes e investidores, ou mesmo tendo dificuldades para penetrar em mercados mais rigorosos, como os dos Estados Unidos e União Europeia. Nesse caso, encontrar o equilíbrio correto será difícil porque os parâmetros variam ao longo do tempo, bem como entre setores e regiões geográficas. O essencial, segundo a HBR, é que os conselhos revisem consistentemente seu foco em ESG e julguem se estão administrando bem os trade-offs.
Em suma, na medida em que a empresa decida que precisa avançar na prática ESG, é fundamental que essa abordagem seja adotada de forma abrangente e genuína, com uma mentalidade de longo prazo que promova a criação de valor sustentável para todos os stakeholders. Somente assim poderemos construir um futuro mais inclusivo – para pessoas de diferentes origens e grupos sociais – e que seja resiliente e sustentável, no qual a transparência corporativa e o sucesso financeiro possam caminhar de mãos dadas com a responsabilidade social e o cuidado com o meio ambiente.
Cortesia das imagens: Freepik. Imagem 1 | Imagem 2.
Sobre o autor | Fernando Oliveira
Fernando é o fundador e editor da Sustenare News. Ele é administrador de empresas, cientista da computação e doutor em energia pela Universidade de São Paulo (USP). Fernando morou nos Estados Unidos por dez anos, país onde cursou universidade e trabalhou por igual período para empresas de tecnologia e do ramo editorial.