Casas à prova de calor protegem vidas e reduzem carbono

Casas à prova de ondas de calor podem salvar vidas e reduzir carbono. Pintar casas e prédios na cor branca ajuda a refletir mais a energia do sol de volta ao espaço.
As nano tintas podem formar uma barreira para bloquear a radiação de calor do sol em dias quentes. Foto: Flow Clark/Unsplash.

Prédios são projetados de acordo com o clima local e servem para manter pessoas seguras, confortáveis e quentes quando estiver frio lá fora, secas quando estiver úmido e abrigadas quando estiver tempestuoso. Diante de novas condições climáticas, pode ser difícil os prédios atenderem a tais necessidades. A recente onda de calor de 40°C no Reino Unido mostrou que muitas estruturas existentes, especialmente das casas (onde passamos dois terços de nossas vidas), não estão à altura da tarefa.

Idosos com problema de saúde estão entre os mais vulneráveis a altas temperaturas, pois o calor pode exacerbar condições potencialmente fatais, como doenças respiratórias e cardíacas e até Alzheimer. Uma estimativa inicial sugere que até 1.000 mortes podem ter ocorrido na Inglaterra e no País de Gales por conta da onda de calor que permaneceu por três dias em meados de julho de 2022.

Cada país deve considerar casas à prova de calor para manter as pessoas seguras enquanto o mundo aquece. Isso faz parte do que os especialistas em mudanças climáticas chamam de adaptação. A outra metade dessa obrigação é com a mitigação: cortar as emissões de carbono o mais rápido possível para minimizar o aumento da temperatura. Ao adaptar as habitações para resistir a ondas de calor extremo, os países têm a oportunidade de atender ao mesmo tempo a ambas as necessidades.

Você já deve conhecer algumas das soluções para descarbonizar habitações: aumento do isolamento de telhados e paredes, janelas com vidros duplos para maior eficiência energética, além da troca de caldeiras a gás por alternativas como bombas de calor que podem funcionar com eletricidade renovável. Essas mesmas medidas também ajudarão as pessoas a se manterem seguras durante futuras ondas de calor.

Assim como um melhor isolamento da casa mantém o ar quente em seu interior durante o inverno, ele o mantém do lado de fora durante o verão. Persianas externas que bloqueiam a luz solar são uma opção simples para diminuir a temperatura interna, afastando mais o calor. Até mesmo pintar as paredes externas e os telhados de uma cor clara para refletir melhor os raios do sol também ajuda a tornar uma casa à prova de calor.

Persianas externas são usadas há séculos em países quentes para banir o sol do meio-dia. Foto: Brett Jordan/Unsplash

A maioria das casas no Reino Unido é aquecida com caldeira a gás, mas não tem sistema equivalente para resfriamento. Nesse caso, as bombas de calor podem ajudar. Essas máquinas são essencialmente geladeiras que funcionam de forma reversa. Se por um lado uma geladeira retira o calor de seu interior e o dispersa pelas bobinas posicionadas atrás dela, uma bomba de calor suga o calor do ar (ou solo) do lado de fora e o transfere para o interior de sua casa para mantê-la aquecida no inverno. Esse processo funciona à eletricidade, sem precisar da queima de gás.

As bombas de calor podem ser programadas para funcionar em um ciclo reverso, permitindo bombear água fria em vez de água quente pelos radiadores para resfriar sua casa no verão. Mas este ciclo de arrefecimento tem que ser integrado ao sistema da bomba de calor quando for instalado – tarefa que não é tão simples quanto apertar um interruptor. Infelizmente, o governo do Reino Unido oferece pouca orientação. O Energy Saving Trust, um órgão do governo encarregado de tornar as casas energeticamente mais eficientes, esquece até mesmo de mencionar em seu guia que as bombas de calor são capazes de resfriar.

A taxa de instalação dessas bombas quase dobrou em 2021 no Reino Unido. Consequentemente, haverá muitas casas com novas bombas de calor (financiadas com subsídios públicos) que podem fornecer apenas aquecimento.

Instalada corretamente, uma bomba de calor pode resfriar e aquecer uma casa. Foto: Freepik

Melhores casas em geral

A falta de previsão em iniciativas nacionais às mudanças climáticas é frustrante. O isolamento de prédios ajudaria a reduzir permanentemente as contas de energia de milhões de pessoas, mas na última década o governo do Reino Unido cortou recursos voltados para medidas de eficiência energética.

Recentemente, o governo abandonou planos que duplicariam o financiamento para que famílias de baixa renda pudessem se tornar mais energeticamente eficientes. Enquanto isso, proprietários de casas recém-construídas no Reino Unido sofrem muito por conta do mau isolamento de suas residências, da mesma forma que os das mais antigas.

Alguns países estão sendo mais proativos neste sentido. Os donos de casas próprias na Itália podem reivindicar 110% do custo incorrido para melhorar a eficiência energética de suas residências – cujo total pode ser de até € 100.000, abatidos no imposto de renda pelos cinco anos seguintes ao da melhoria. Isso é mais do que suficiente para fazer uma casa no Reino Unido chegar ao padrão net zero, cujo custo estimado é de 26 mil libras esterlinas.

Se as casas precisarem de menos energia para aquecer ou resfriar porque se tornaram energeticamente mais eficientes, isso ajudaria a reduzir (e talvez até erradicar) a pobreza de combustível. Se elas conseguirem manter temperaturas internas confortáveis e aprimorar a qualidade do ar por meio de uma melhor ventilação, beneficiarão as pessoas que trabalham ou estudam em casa, na eventualidade de acontecer outra pandemia.

E, se a tecnologia for alimentada por uma rede de energia renovável dispersa, composta por painéis solares no telhado que alimentam o excesso de energia para a rede, a sociedade será mais resiliente a futuros picos no preço da energia. Além de quaisquer benefícios que essas ações possam ter para combater as mudanças climáticas, elas simplesmente refletem a realidade da vida moderna.

As soluções são simples, mas implantá-las será uma tarefa complexa – todos os países devem coordenar suas iniciativas de forma mais eficaz. Muito dinheiro –  público e privado – será gasto para zerar as emissões de poluentes. A menos que os países planejem se adaptar para o aumento das temperaturas, a oportunidade para tornar as casas mais confortáveis, resilientes e habitáveis será perdida.

Artigo original (em inglês) publicado por Ran Boydell na The Conversation UK.



Sobre o autor
Ran Boydell é Professor Associado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade Heriot-Watt e tem recebido comissões e financiamento do governo escocês.

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