PFAS estão em todo lugar e são altamente tóxicas para humanos
Os seres humanos percebem o risco com base principalmente no que podem ver, cheirar e provar. Esses sentidos nos servem bem quando há perigos perceptíveis à nossa saúde e ao meio ambiente.
Podemos ver e cheirar um esgoto e percebê-lo como um risco para a saúde humana e ambiental. No entanto, existem ameaças químicas graves, chamadas de substâncias perfluoralquil e polifluoralquil (PFAS), que não podemos perceber porque são incolores e inodoras.
Presentes em nossa água potável e ecossistemas naturais, a exposição a altos níveis dessas substâncias químicas tóxicas pode provocar uma série de efeitos negativos na saúde de humanos e animais selvagens. Tais efeitos incluem um aumento no risco de certos tipos de câncer, doenças renais, colesterol, distúrbios reprodutivos e de desenvolvimento, além de uma resposta vacinal diminuída. [Estudo sugere que as PFAS também estão ligadas à diabetes e infertilidade.]
Os seres humanos não podem ver, cheirar ou provar as PFAS em nossa água mas elas são uma séria ameaça global. Embora apresentem um risco real alto, muitas pessoas não sabem disso.
O que são PFAS?
Desenvolvidas pela primeira vez na década de 1940, as PFAS são um grande grupo de mais de 4.000 produtos químicos sintéticos, comumente conhecidos como “forever chemicals” [“produtos químicos eternos”, numa tradução livre], cujas propriedades os tornam repelentes à água e óleo e altamente resistentes à degradação química e térmica.
Deste modo, as PFAS servem de ingredientes para vários produtos de nosso dia-a-dia e, como tal, estão à nossa volta. Frigideiras antiaderentes, capas de chuva à prova d’água, sofás e tapetes retardadores de chamas, embalagens de alimentos, maquiagem e inúmeros outros itens contêm essas substâncias químicas.
[Um dos grandes problemas é que as] PFAS podem persistir no ambiente por centenas ou milhares de anos. Há estimativa que demore mais de 1.000 anos, em média, para que a concentração química de algumas PFAS seja reduzida em 50% no solo.
Como estamos expostos às PFAS
Por conta de sua persistência, as PFAS acumularam-se constantemente em fontes de água potável e oceanos em todo o mundo. Isso pode acontecer quando a água contaminada vaza dos aterros sanitários para os lençóis freáticos. As PFAS presentes em utensílios domésticos também podem ser levadas para rios e oceanos por meio do sistema de esgoto.
Em 2019, pelo menos um tipo de substância PFAS foi detectado em 60% dos poços públicos de água subterrânea e 20% dos poços privados usados como fontes de água potável na Costa Leste dos EUA. Na Inglaterra, a Agência Ambiental analisou 470 pontos de água doce entre 2014 e 2019 e encontrou contaminação por PFAS em 97% deles.
Os contaminantes da água doce se acumulam em plantas e animais e podem ser transferidos para os seres humanos por meio de sua ingestão.
Na cidade de Charleston, na Carolina do Sul [EUA], os cientistas registraram concentrações de 11 PFAS em seis espécies de peixe. Os níveis do produto químico mais abundante registrado em cada espécie – sulfonato de perfluorooctano – excederam as diretrizes de proteção da vida selvagem em 83% dos peixes inteiros examinados. Portanto, o consumo de peixe selvagem representa um grave problema de saúde para a população local.
As PFAS estão aqui para ficar
É provável que a maioria das pessoas no mundo tenha sido exposta a [qualquer tipo de] PFAS. Em 2012, estimou-se que mais de 97% dos americanos tinham níveis detectáveis de PFAS no sangue, por exemplo.
Ao contrário da maioria dos outros poluentes químicos, as PFAS são capazes de circular continuamente em processos hidrológicos e se espalhar pela atmosfera. Cientistas, por exemplo, registraram concentrações de PFAS na água da chuva em quase todo o planeta. Isso significa que a contaminação pode ser amplamente irreversível.
Distribuídas pelo ciclo da água, as PFAS têm possibilitado a contaminação de cantos remotos do planeta e impactado negativamente sua vida selvagem. Na Antártica, o acúmulo na neve de um tipo de PFAS – ácido perfluorobutanóico – aumentou mais de 200 vezes entre os anos de 1957 e 2015.
Pesquisadores também encontraram altas concentrações de PFAS em algas no Oceano Ártico. As algas são uma importante fonte de alimento para o zooplâncton e sua contaminação escala a cadeia alimentar para peixes e camarões, depois focas e, finalmente, para predadores de ponta, como os ursos polares.
Um estudo com ursos polares do leste da Groenlândia revelou que a contaminação por PFAS pode interromper seu sistema hormonal e afetar negativamente seu sistema reprodutivo.
Para muitas pessoas, é improvável que os níveis atuais de exposição às substâncias PFAS sejam altos o suficiente para justificar uma preocupação séria. Todavia, a exposição destas substâncias provavelmente será muito maior para algumas ocupações, incluindo o combate a incêndios e a fabricação e processamento de produtos químicos, assim como também aumentará o risco para as pessoas cuja água potável ou fontes de alimentos foram contaminadas.
A ciência, e até mesmo Hollywood, nos alertou sobre a ameaça química global representada pelas PFAS. No entanto, muitos de nós não as percebemos como uma ameaça, talvez pelo fato de que os PFAS são uma ameaça “invisível” e não tão óbvia quanto o esgoto ou a poluição plástica. Mas essas substâncias químicas tóxicas se acumularam em muitas de nossas fontes de água e agora estão interferindo nos ecossistemas naturais. Portanto, governos, cientistas e a mídia precisam melhorar a comunicação sobre os riscos associados às substâncias PFAS.
Artigo original (em inglês) publicado por Patrick Byrne na The Conversation.
Sobre o autor
Patrick Byrne atua nas áreas de Hidrologia e Poluição Ambiental, na Universidade John Moores, em Liverpool, Reino Unido. Seus interesses de ensino e pesquisa estão centrados na compreensão da origem, transporte e destino dos poluentes ambientais em sistemas terrestres e aquáticos.