O poder computacional dedicado à IA dobra a cada 100 dias. O que isso significa?

Image de fundo lilás com as letras I A em textura eletrônica para ilustrar o post que diz que o poder computacional dedicado à IA dobra a cada 100 dias. O que isso significa?
A inteligência artificial está organizando seu feed de mídia social e te fornecendo instruções para a estação de transporte. Mas ela também está lançando um bote salva-vidas para a indústria dos combustíveis fósseis. Crédito: JComp/Freepik.
Getting your Trinity Audio player ready...

Desde 2020, três das maiores empresas de tecnologia, Microsoft, Google e Meta, têm apresentado emissões crescentes de gases de efeito estufa (GEEs). Os data centers repletos de servidores que executam programas de inteligência artificial (IA) dia e noite são os principais culpados.

Os modelos de IA consomem muita eletricidade, e o Fórum Econômico Mundial estimou em abril que o poder computacional dedicado à IA dobra a cada 100 dias. Esse boom nos EUA, onde muitos pioneiros da tecnologia de IA estão baseados, está sendo alimentado pela revitalização de usinas movidas a gás natural – anteriormente, programadas para fechar.

Primeiramente, o que realmente é IA?

“Em sua essência, o tipo de IA que hoje em dia estamos vendo em produtos de consumo identifica padrões”, dizem Sandra Peter e Kai Riemer, especialistas em computação da Universidade de Sydney.

“Ao contrário da programação tradicional, em que os desenvolvedores programam explicitamente como um sistema funciona, a IA ‘aprende’ esses padrões a partir de vastos conjuntos de dados, permitindo a execução de tarefas”.

Enquanto os programas de IA estão sendo “treinados” e alimentam grandes somas de dados ao longo de várias semanas e meses, os processadores de dados funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana. Uma vez pronta para uso, uma IA pode consumir 33 vezes mais energia para concluir uma função do que um software tradicional.

Imagem de um data center ilustra o post cujo título diz que o poder computacional dedicado à IA dobra a cada 100 dias. O que isso significa?
O consumo energético de data centers explodiu para acompanhar o crescimento da inteligência artificial. Crédito: DC Studio/Freepik.

Na verdade, fazer uma única consulta a um chatbot [robô de bate-papo] movido pela inteligência artificial pode consumir dez vezes mais energia do que uma pesquisa feita no Google, de acordo com Gordon Noble e Fiona Berry, pesquisadores de sustentabilidade da Universidade de Tecnologia de Sydney.

“Essa enorme demanda por energia resulta em aumentos nas emissões de carbono e no consumo de água, e pode colocar mais pressão sobre as redes elétricas, já sobrecarregadas pelas mudanças climáticas”, dizem eles.

Os data centers estão sedentos e famintos por energia: milhões de litros de água precisam ser bombeados para mantê-los resfriados.

Esses enormes conjuntos de servidores estão competindo com as pessoas por uma parcela crescente de energia e água, uma situação que pode ser fatal durante uma onda de calor ou seca.

Uma solução duvidosa

Os especialistas têm apenas uma imagem parcial do uso de recursos da IA, argumentam Noble e Berry. Uma pesquisa mostrou que apenas 5% dos profissionais de sustentabilidade na Austrália acreditavam que os operadores de data centers forneciam informações detalhadas sobre o impacto ambiental que eles causam.

Deixando de lado seu apetite feroz por recursos, a IA é aclamada como um canivete suíço de consertos para nosso planeta doente.

A capacidade da IA de processar montanhas de dados significa que ela pode detectar os sinais de alerta de uma tempestade ou inundação e rastrear como o ambiente está mudando, dizem Ehsan Noroozinejad e Seyedali Mirjalili, especialistas em IA da Western Sydney University e da Torrens University Australia, respectivamente.

“Por exemplo, a IA pode supostamente medir mudanças em icebergs 10.000 vezes mais rápido do que um humano”, acrescentam.

Kirk Chang e Alina Vaduva, especialistas em gestão, da Universidade de East London, destacam as esperanças de que a IA possa tornar as simulações do clima da Terra mais precisas.

A IA pode monitorar de perto toda uma rede elétrica e coordenar os geradores para que desperdicem menos energia enquanto atendem à demanda. Os modelos de IA podem identificar materiais para triagem em uma instalação de reciclagem e analisar a poluição do ar para identificar suas fontes. Nas fazendas, os sistemas de IA podem rastrear as condições climáticas e do solo para garantir que as plantações recebam apenas a quantidade necessária de água.

No entanto, as alegações de eficiência da IA são infelizmente prejudicadas por um problema bem desgastado. Quando a humanidade torna uma atividade mais eficiente por meio da inovação, a economia de energia ou de recursos geralmente é investida na expansão dessa atividade ou de outras.

“A conveniência de um veículo autônomo pode resultar no aumento de viagens das pessoas e, na pior das hipóteses, dobrar a quantidade de energia usada para o transporte“, diz Felippa Amanta, doutoranda em tecnologias digitais e mudanças climáticas.

Embora haja valor em imaginar o que a IA pode nos ajudar a fazer, é importante reconhecer o que ela já está fazendo. Uma investigação da Scientific American descobriu que a IA foi implantada na extração de petróleo em 2019 para aumentar substancialmente a produção. Em outros lugares, a publicidade direcionada que usa IA cria demanda por bens materiais. Ou seja, mais coisas produzidas em massa resultam em mais emissões.

Nossa resposta às mudanças climáticas precisa ser de alta tecnologia?

Durante um desastre climático como o furacão Helene, que ceifou mais de 150 vidas no sudeste dos EUA no fim de semana, um fornecimento confiável de energia costuma ser a primeira coisa a desaparecer. A IA pode ser de pouca ajuda nessas circunstâncias.

As consequências do furacão Helene na Flórida. Crédito: Florida National Guard, Keaton Beach, Flórida/CC2.0.

As soluções de baixa tecnologia para os problemas da vida são geralmente mais resilientes e de baixo carbono. Na verdade, a maioria delas – como paredes de frutas, que usavam energia renovável para cultivar produtos mediterrâneos na Inglaterra já na Idade Média – existem há muito tempo.

Artigo original (em inglês) publicado por Jack Marley na The Conversation UK.

Sobre o autor
Jack Marley é Editor da seção Meio Ambiente + Energia na The Conversation UK. Jack está baseado em Newcastle e tem experiência em pesquisa na área da biologia marinha. Ele se interessa por temas como mudança climática, biodiversidade e comportamento animal.

Outros Posts